Três homens brancos do estado da Geórgia serão julgados a partir desta segunda-feira (18) pela morte a tiros de um corredor negro, um crime que provocou vários protestos e aumentou os pedidos de justiça social nos Estados Unidos
Gregory McMichael, 65 anos, seu filho Travis, 35, e seu vizinho William Bryan, 52, foram acusados de assassinato e agressão com agravante após perseguir Ahmaud Arbery, de 25 anos, e atirar no jovem em fevereiro de 2020.
Pai e filho perseguiram Arbery em uma caminhonete, enquanto Bryan estava em seu próprio veículo e filmou a cena.
Após uma discussão, Travis McMichael abriu fogo e matou Arbery. Os três homens alegam que confundiram o corredor com um ladrão que era ativo na região e invocaram uma lei da Geórgia que permite aos cidadãos comuns efetuar detenções.
Os promotores locais, para os quais Gregory McMichael, um policial aposentado, havia trabalhado durante muito tempo, não fizeram nenhuma detenção no caso durante quase três meses.
Foi apenas depois que o vídeo dos tiros foi divulgado na internet e viralizou nas redes sociais que o caso foi transferido para a polícia estadual: os três suspeitos foram detidos e acusados.
A morte de George Floyd duas semanas depois, com o pescoço pressionado pelo joelho de um policial branco em Minneapolis, provocou a retomada de um debate nacional sobre a justiça racial e a violência policial contra os afro-americanos. Arbery se tornou um dos símbolos dos protestos nacionais do movimento Black Lives Matter.
"Um homem negro deveria poder correr sem temer por sua vida", tuitou o presidente Joe Biden no aniversário da morte de Arbery.
- "Linchamento" -
A seleção do júri deve demorar vários dias, devido ao grande acompanhamento que o caso tem na imprensa.
Os acusados provavelmente alegarão que agiram em legítima defesa e que Arbery resistiu à detenção legal.
Os promotores insistirão que a vítima estava desarmada e que nada a vinculava a uma série de roubos que aconteceram no bairro onde praticava corrida.
Ben Crump, um advogado de direitos civis que representou várias famílias afro-americanas em casos de violência, declarou que tem a esperança de que o "tribunal faça justiça a Ahmaud e sua família".
"Se estes assassinos escaparem sem consequências, isto enviará a mensagem de que o linchamento de homens negros em 2021 não acarreta nenhuma punição".
Desde a morte de Arbery, a Geórgia aprovou uma lei que impõe penas adicionais por crimes motivados pelo ódio racial, o gênero, a orientação sexual e outras características da vítima.
A mãe de Arbery iniciou um processo civil separado para exigir o pagamento de um milhão de dólares contra McMichaels e Bryan, mas também contra as autoridades locais, acusadas de tentar acobertar o caso.
Um dos promotores locais, Jackie Johnson, foi acusado no mês passado por violar seu juramento ao cargo e supostamente obstruir a investigação da morte de Arbery.
Os três acusados também enfrentam acusações federais separadas por crimes de ódio e um julgamento está programado para fevereiro.