Líbano

Tensão extrema no Líbano após confrontos violentos em Beirute

As Forças Libanesas negaram as acusações, exigiram uma investigação oficial e acusaram o Hezbollah de "invasão" aos bairros cristãos

O Líbano enterrou nesta sexta-feira (15), em um ambiente tenso, as vítimas dos confrontos de quinta-feira (14), os mais violentos em muitos anos e que abalaram o centro de Beirute, provocando o temor de uma guerra civil.

Seis das sete vítimas fatais pertenciam aos dois partidos xiitas, o Hezbollah pró-Irã e seu aliado, o movimento Amal, que organizaram na quinta-feira um protesto diante do Palácio de Justiça de Beirute para exigir a substituição do juiz responsável pela investigação sobre a explosão no porto da capital, no ano passado, que deixou mais de 200 mortos.

Hezbollah e Amal exigem a destituição do juiz Tareq Bitar. Apesar das pressões, o magistrado quer processar vários funcionários.

Mas os funcionários se recusam a serem interrogados, apesar de as autoridades terem reconhecido que as enormes quantidades de nitrato de amônio que explodiram foram armazenadas por anos sem precaução.

Nesta sexta-feira, em um discurso pronunciado durante o funeral de dois membros do Hezbollah nos subúrbios do sul de Beirute, Hasehm Safieddine, um alto funcionário do Hezbollah, acusou o partido cristão Forças Libanesas de ter "provocado deliberadamente um massacre", com o objetivo de desencadear "uma nova guerra civil".

"Como em 1975"

Centenas de pessoas compareceram aos funerais de dois membros do Hezbollah, cujos caixões estavam cobertos por uma bandeira amarela do grupo e levados por combatentes em uniformes. Um terceiro membro do Hezbollah foi enterrado no norte de Beirute.

O movimento Amal enterrou três de seus membros, entre eles um jovem de 26 anos, em um funeral realizado em uma cidade libanesa, entre muitos tiros.

A sétima vítima é uma mãe de cinco filhos que morreu ao ser atingida por uma bala perdida quando estava em sua própria casa.

As duas formações xiitas acusam o partido Forças Libanesas de ter posicionado franco-atiradores nos telhados de edifícios próximos ao Palácio de Justiça. Também afirma que estes abriram fogo contra seus militantes, que se aproximavam dos bairros cristãos vizinhos.

As Forças Libanesas negaram as acusações, exigiram uma investigação oficial e acusaram o Hezbollah de "invasão" aos bairros cristãos.

O jornal Al Akhbar, próximo ao Hezbollah, publicou na primeira página de sua edição desta sexta-feira uma imagem do líder do partido cristão, Samir Geagea, com um uniforme nazista e um bigode similar ao de Hitler, acompanhado da frase: "Não há dúvida".

A tensão é palpável nesta sexta-feira, dia de luto nacional, apesar da presença do exército libanês nos bairros dos confrontos.

Os donos de negócios e os moradores inspecionavam os danos e coletavam os vidros quebrados. "Voltamos para 1975", lamenta Fawzi Saghir, um vendedor de carros em Tayouné.

Na quinta-feira, centenas de milicianos do Amal e do Hezbollah seguiram até as ruas desse bairro, perto do Palácio de Justiça, nos arredores da antiga linha de demarcação durante a guerra civil (1975-1990) entre os bairros muçulmanos e cristãos de Beirute.

As circunstâncias exatas dos confrontos continuam confusas. O exército menciona "tiroteios quando os manifestantes seguiam para um protesto diante do Palácio de Justiça". O ministro do Interior, Bassam Mawlawi, afirmou que "franco-atiradores" abriram fogo contra os manifestantes.

Os tiros aterrorizaram os libaneses e muitos recordaram a guerra civil que acreditavam ter ficado definitivamente no passado.

"Mostrar moderação"

A Rússia pediu "moderação" às forças políticas no Líbano. A França também pediu calma e o governo dos Estados Unidos expressou apoio "à independência do Poder Judiciário" no Líbano.

O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, fez um apelo e pediu o "fim dos atos de provocação". Também defendeu uma "investigação imparcial" da explosão do porto.

A manifestação ocorreu depois que a Justiça rejeitou os recursos apresentados pelos deputados e ex-ministros contra Bitar, o que permitiu retomar a investigação.

O tema está prestes a provocar a implosão do recém-formado governo libanês, após um ano de bloqueio político. Na terça-feira, ministros de partidos xiitas pediram a substituição do juiz e o governo não voltou a se reunir desde então. Enquanto Amal e Hezbollah exigem que o governo se pronuncie a respeito, os demais integrantes do gabinete defendem a separação de poderes.