O ataque com arco e flechas que provocou cinco mortes na Noruega pode ter sido um "ato terrorista" - informaram as autoridades nesta quinta-feira (14), que também anunciaram que o suposto autor é um dinamarquês convertido ao Islã, com quem a polícia esteve em contato por temer sua radicalização.
O suspeito, um dinamarquês de 37 anos residente em Kongsberg, a cidade do ataque, na região sudeste da Noruega, foi detido na quarta-feira à noite.
Os serviços de segurança noruegueses afirmaram, nesta quinta-feira, que o crime "parece um ato terrorista, no momento", mas destacaram que "a investigação jogará mais luz sobre os motivos do agressor".
O homem, que admitiu os atos durante seu interrogatório, é um convertido ao Islã, informou a polícia norueguesa.
"Havia temores relacionados a uma radicalização do indivíduo", afirmou o oficial Ole Bredrup Saeverud, durante uma entrevista em Tønsberg.
Segundo ele, o receio levou as autoridades a vigiarem o homem até 2020.
"Estamos relativamente seguros de que agiu sozinho", afirmou Bredrup Saeverud.
Cinco pessoas morreram, e duas ficaram feridas no ataque em Kongsberg, que provocou uma grande comoção nacional. Na última década, o país escandinavo foi alvo de dois atentados da extrema-direita.
As vítimas são quatro mulheres e um homem, com idades entre 50 e 70 anos. Nenhum ferido está em condição crítica.
O suspeito deve comparecer a uma audiência com um juiz, que provavelmente determinará a prisão provisória. A promotora responsável pelo caso disse que o homem também será submetido a exames psiquiátricos.
O advogado Fredrik Neumann afirmou que o suspeito "se explica com detalhes, fala e coopera com a polícia".
Outras armas?
O ataque aconteceu em vários pontos de uma área extensa de Kongsberg, particularmente em um supermercado, no qual um policial que estava de folga ficou ferido.
Alertada às 18h12 (13h12 de Brasília), a polícia prendeu o suspeito mais de meia hora depois, às 18h47. Os agentes foram atacados com flechas durante a operação e deram tiros de advertência.
De acordo com a polícia, o suspeito também utilizou outras armas, mas as autoridades não informaram de que tipo.
As testemunhas relataram a noite de terror em Kongsberg, uma localidade de 25.000 habitantes que fica 80 quilômetros ao oeste de Oslo.
"Pensei que isto aqui era Cabul", declarou Thomas Nilsen, que estava em casa quando ouviu os gritos.
Hansine, uma moradora que presenciou parcialmente o ataque, declarou ao canal TV2 que ouviu gritos e viu uma mulher buscando refúgio, assim como "um homem na esquina de uma rua com flechas em uma aljava nas costas e um arco na mão".
"Depois, vi as pessoas correndo por suas vidas. Uma era uma mulher que levava uma criança pela mão", contou.
"Horrorizados"
O ataque aconteceu no último dia de mandato da primeira-ministra Erna Solberg, conservadora. Nesta quinta, ela passa o poder para um novo Executivo, de centro-esquerda, liderado por Jonas Gahr Støre, vencedor das legislativas de 13 de setembro.
Nesta quinta-feira, Støre lamentou "atos horríveis".
"Estamos horrorizados com os acontecimentos trágicos em Kongsberg", reagiu o rei Harald V.
Em resposta ao ataque, a polícia determinou que os agentes, que geralmente andam desarmados, devem carregar armas de maneira temporária em todo país.
Um país em geral pacífico, a Noruega foi cenário de ataques da extrema-direita na última década.
Em 22 de julho de 2011, Anders Behring Breivik matou 77 pessoas, ao detonar uma bomba perto da sede do governo em Oslo. Na sequência, abriu fogo em um evento da Juventude Trabalhista na ilha de Utøya.
Em agosto de 2019, Philip Manshaus atirou contra uma mesquita na região de Oslo, até ser controlado por uma multidão, sem que o ataque tenha deixado feridos graves. Antes do atentado, ele matou por racismo sua irmã asiática adotada.
As autoridades também anunciaram que impediram vários atentados islamitas.