Em uma manobra surpreendente, a União Europeia (UE) propôs ao Reino Unido flexibilizar os controles sobre a entrada de bens destinados à Irlanda do Norte. A medida busca diminuir as tensões internas, mas também procura resolver entraves no relacionamento entre Londres e Bruxelas, que têm aumentado desde o Brexit. Uma nota da Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco, indiciou que a flexibilização incidirá sobre uma “ampla gama” de mercadorias originárias do Reino Unido e “consumidas na Irlanda do Norte”. A expectativa é de uma redução de 80% nos controles e de 50% na burocracia alfandegária, acrescentou o comunicado.
De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), Maros Sefcovic — vice-presidente da Comissão Europeia — admitiu ter ponderado os pontos de vista de cidadãos da Irlanda do Norte e que “as propostas apresentadas hoje (ontem) são uma resposta genuína às suas preocupações”.
Controles
Com isso, disse Sefcovic, a UE dá uma prova de flexibilidade. “Mas o governo britânico deve fazer sua parte. Os controles que restam devem ser efetuados corretamente e os postos aduaneiros devem ser operacionais”, frisou. Londres, aparentemente, recebeu bem a oferta, dispondo-se a analisá-la “de forma séria e construtiva”.
Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham (Reino Unido), considerou a proposta de flexibilização como uma “evolução muito positiva”. Segundo ele, isso permitiria à Irlanda do Norte colher os benefícios do mercado único, enquanto permanece na zona aduaneira do Reino Unido.
“É um acordo muito bom para os norte-irlandeses e para a União Europeia, que, sob pressão da Irlanda, tem estado pronta a firmar esse compromisso. Nós não deveríamos nos esquecer de que o povo da Irlanda do Norte votou para continuar na União Europeia — 55,8% contra 44,2%”, ressaltou ao Correio, por e-mail.
“Embora os Unionistas linha-dura desejassem um Brexit total na Irlanda do Norte, isso teria criado uma maioria contra eles e aumentado o risco de grave violência por lá. Os linha-dura não conseguiram o que queriam, e isso é uma nota notícia para todos”, assinalou.
» Eu acho...
“A decisão fortalece a posição da União Europeia no longo prazo. Vamos esperar que o governo britânico aproveite essa oportunidade para assinar um acordo sobre a Irlanda do Norte, seguir adiante e começar a resolver os grandes problemas econômicos que fluem de outras partes do Reino Unido, resultados do desastroso pacto do Brexit, assinado em 24 de dezembro de 2020.”
Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham (Reino Unido)