ALEMANHA

Merkel apela por diálogo a partidos

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, fez um apelo aos partidos políticos para que superem as diivergências depois das eleições legislativas, em um contexto de negociações difíceis para a formação do governo. Em discurso por ocasião do Dia Nacional da Reunificação da Alemanha, em 1990, a líder fez um balanço dos 16 anos no poder e pediu aos alemães que defendam a democracia dos demagogos.

“Temos que continuar moldando nosso país. Podemos discutir sobre a forma precisa de fazer isto no futuro, mas sabemos que temos a solução, que temos que ouvir a todos, uns aos outros, e dialogar”, declarou Merkel, que vai se aposentar da política após a formação do novo governo, algo que pode demorar meses. “Temos divergências, mas também coisas em comum. Estejam dispostos a reunir-se com os demais (...) e tenham a capacidade de suportar as diferenças”, acrescentou, na cidade de Halle (leste). “Esta é a lição de 31 anos de unidade alemã.”

Essas foram as primeiras declarações de Angela Merkel sobre o resultado das eleições e a situação política derivada das urnas — a coalizão governista União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) perdeu para o Partido Social-Democrata (SPD), do candidato Olaf Scholz. As negociações exploratórias entre as legendas para a formação do novo Executivo começaram ontem e devem ser muito complicadas.

Tríade
Muito provavelmente será necessária uma aliança de três partidos com programas muito distintos para alcançar a maioria, o que não ocorria desde a década de 1950. A opção considerada mais plausível no momento é a de uma coalizão do SPD, que ficou em primeiro lugar (25% dos votos), com o Partido Verde e o Partido Democrático Liberal (FDP, direita). Tal possibilidade é apoiada por 59% dos alemães, segundo uma pesquisa da emissora ZDF.

Os líderes do SPD e do FDP relataram “discussões construtivas” no início da tarde, sem entrar em detalhes. No entanto, o secretário-geral dos liberais, Volker Wissing, admitiu que as “posições” de ambos os grupos ainda “estavam muito distantes em questões importantes”. É o caso, em particular, dos impostos que os sociais-democratas querem aumentar para os mais ricos e que o FDP pretende diminuir. A centro-direita da chanceler também tenta estabelecer uma aliança com ecologistas e liberais. Embora os democratas-cristãos da CDU, partido de Merkel, tenham emergido enfraquecidos e divididos de sua derrota eleitoral, a formação se reuniu separadamente com o FDP e com os Verdes.

O líder da CDU, Armin Laschet, ao qual muitos atribuem o pior resultado eleitoral registrado pelos conservadores na história da Alemanha moderna (24,1% dos votos), parece cada vez mais ameaçado. Seus rivais dentro do partido, como Friedrich Merz ou Jens Spahn, que defendem uma linha mais voltada para a direita, se preparam para uma eventual sucessão de liderança. Outros exigem uma renovação “completa” do partido, após 16 anos de Angela Merkel.