A chanceler alemã, Angela Merkel, destacou nesta sexta-feira (29) os "altos e baixos" das relações greco-alemãs, em sua última viagem oficial à Grécia, encerrando um capítulo tempestuoso na história entre os dois países, devido à crise da dívida grega.
"O que nos deu força neste período é que sempre tivemos a sensação de estarmos juntos", declarou a chanceler durante encontro com a presidente da República Helênica, Katerina Sakellaropoulou.
As relações greco-alemãs "tiveram altos e baixos, mas estão em bases sólidas", acrescentou Merkel, que desembarcou na Grécia na quinta-feira (28) a convite do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, como despedida após 16 anos no comando do governo alemão.
Considerada "uma das mulheres mais odiadas da Grécia", segundo o tabloide alemão Bild, Merkel reconheceu em setembro que "o momento mais difícil do meu mandato foi quando pedi tanto à Grécia".
Ao seu lado, nesta sexta-feira (29), a chefe de Estado grega destacou que "a Grécia foi chamada a pagar um preço alto" durante a crise da dívida.
De sua parte, o primeiro-ministro Mitsotakis, com quem Merkel se encontrou mais tarde, disse na semana passada em Bruxelas que "a austeridade foi além do que a sociedade grega podia suportar".
A partir de 2010, a chanceler exigiu do então primeiro-ministro, o socialista Yorgos Papandréu, medidas de austeridade para cortar o déficit público. Desde então, Merkel é vista entre os gregos como a "dama de ferro" da Europa.
Com seu então ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, Merkel exigiu cortes dolorosos no orçamento e aumentos acentuados de impostos em troca de três resgates no valor de mais de 300 bilhões de euros (US$ 370 bilhões).
As pensões foram cortadas, e o salário mínimo mensal caiu para cerca de 500 euros (US$ 585). Junto a isso, houve uma onda de privatizações, especialmente na saúde, cujos hospitais funcionavam com poucos funcionários, sem medicamentos e material médico-hospitalar.
No auge da crise, em 2012, Merkel foi recebida em Atenas por manifestantes com cartazes com a suástica nazista, ou com charges suas como se fosse Hitler.
30% de estima
A eleição do líder da esquerda radical Alexis Tsipras em janeiro de 2015 levou a um verdadeiro confronto entre Berlim e Atenas.
O primeiro-ministro grego quis romper os acordos e convidou Merkel a voltar para casa.
A Grécia foi ameaçada de exclusão da zona do euro, embora finalmente tenha cedido à pressão de seus credores e aceitado novas medidas de austeridade.
Essa memória ainda prejudica a imagem de Merkel. Uma pesquisa da Pew Research em 16 países indicou que apenas 30% dos gregos estimam a chanceler, contra uma média de 77% nas outras nações pesquisadas.
Para Alexander Kritikos, membro do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), "a última visita de Merkel a Atenas é um sinal importante que indica que os anos muito difíceis da crise econômica na Grécia estão no caminho de um desfecho bem-sucedido".
Na pauta das reuniões de hoje, estão a crise energética na Europa e a luta contra a pandemia da covid-19, afirmou uma fonte do governo grego. Outros pontos são as relações com a Turquia, a migração e a situação na Líbia.
Os líderes em Atenas estão confiantes em que o sucessor da chanceler não será tão conciliador quanto ela com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Há questões espinhosas sobre a mesa, como a exploração de gás da Turquia em uma área reivindicada pela Grécia no Mediterrâneo, o conflito de longa duração sobre a ilha dividida do Chipre, ou a implantação, em agosto de 2020, de um navio de pesquisa sísmica turco em águas sob disputa.
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