Com mais jovens, mais mulheres e mais parlamentares de origem estrangeira, o novo Parlamento alemão realiza sua primeira sessão nesta terça-feira (26), com um ar renovado de diversidade, mas ainda longe de ser um reflexo da sociedade.
Um mês após as eleições legislativas de 26 de setembro, os 736 deputados da Bundestag (Câmara Baixa) assumem seus assentos na assembleia que deverá eleger oficialmente o novo chanceler.
À espera de um sucessor, a chanceler Angela Merkel ocupará o lugar na tribuna de honra do Parlamento. Seu governo administra os assuntos do dia a dia, e ela, pela primeira vez em 31 anos, não se candidatou a um assento.
Ganhador da última corrida eleitoral, o social-democrata Olaf Scholz tenta conseguir fechar uma coalizão com ambientalistas e liberais.
Enquanto a transferência de poder não acontece, o presidente da Bundestag, Wolfgang Schaeuble, entregará o bastão para a socialista Baerbel Bas, de 53 anos, terceira mulher a ocupar o cargo. Schaeuble é membro da Casa desde 1972.
Schaeuble disse aos deputados que as democracias parlamentares terão uma chance contra os concorrentes "autoritários", apenas se assegurarem o respeito à "diversidade de pontos de vista" em suas sociedades.
"Podemos estar em desacordo", afirmou, mas os conflitos devem ser enfrentados "de maneira justa, de acordo com as regras", acrescentando que o debate político alemão se tornou cada vez mais "intolerante com as diferenças".
Com um recorde de 736 cadeiras, a nova Bundestag conta com uma série de novidades no país mais populoso da União Europeia (UE). Para os atividades, porém, ainda há um longo caminho a percorrer para refletir, nesta Casa, a crescente diversidade da sociedade alemã.
'Despertar'
Primeira mulher negra na Câmara Baixa, Awet Tesfaiesus se sentou entre os parlamentares verdes. Nascida na Eritreia há 47 anos, esta advogada, deputada pelos Verdes, foi para a Alemanha aos 10 anos e dedicou sua carreira à defesa dos direitos dos migrantes e refugiados.
"Precisamos de diversidade neste país", disse ela em entrevista à AFP. "Precisamos que as pessoas vítimas de racismo sejam mais bem representadas", acrescentou.
Awet, Karamba Diaby, de origem senegalesa e primeiro negro eleito para a Bundestag, e Armand Zorn, que chegou dos Camarões aos 12 anos, serão os únicos deputados negros em uma assembleia dominada por homens e brancos.
Já o número de deputados de origem estrangeira está aumentando. Os parlamentares nascidos no exterior, ou com um dos pais estrangeiros, representam 11,3% da Bundestag, no total de 83 cadeiras, contra 8,2% (58), na legislatura anterior.
"Estamos testemunhando um despertar na política", afirmou Deniz Nergiz, diretora do Conselho Federal de Imigração e Integração (BZI), que promove a participação política de pessoas de origem estrangeira.
"Também temos, pela primeira vez, um refugiado eleito na Alemanha Oriental", onde o número de migrantes é muito menor, explicou a especialista à AFP.
Entre os novos membros da Bundestag está Lamya Kaddor, que dá cursos de religião islâmica em escolas na região do Ruhr. Este é um assunto que tem sido muito debatido na Alemanha nos últimos anos.
Durante os quatro anos de seu mandato, Awet Tesfaiesus quer lutar contra o "rótulo" de estrangeira atribuído a ela, apesar de seu passaporte alemão.
"O racismo é sentido em todos os lugares, de forma latente", disse.
"Quando procuramos um apartamento, quando o carteiro entra no meu escritório de advocacia e fala com minha secretária porque automaticamente pensa que ela é minha superiora", relata.
Ela contou que lançou sua carreira política após o ataque racista em Hanau, perto de Frankfurt, em fevereiro de 2020. Neste episódio, um adepto da extrema direita matou nove pessoas a tiros em um bar de shisha e em um café.
Ainda longe de espelhar a sociedade
Esta nova leva de deputados também representa um marco geracional, com cerca de 25% dos novos membros com idades abaixo de 40 anos.
A deputada dos Verdes Ricarda Lang tuitou uma foto de vários dos novos colegas na escadaria do edifício do Parlamento com a frase: "Há algumas crianças novas na cidade".
Apesar dessa renovação, a Bundestag continua longe de ser um espelho fiel da sociedade alemã.
"Ainda estamos muito aquém dos 26% (de estrangeiros) da sociedade como um todo", frisou Nergiz.
O mesmo ocorre na questão de gênero, ainda muito distante da paridade, apesar de ser um país que nos últimos 16 anos foi governado por uma mulher.
Nesta legislatura, as mulheres ocuparão 24% dos assentos no Bundestag, contra 20% na anterior.
Existem disparidades significativas entre os partidos nesta questão. Os Verdes, por exemplo, têm uma maioria de mulheres (59%), incluindo duas transgêneros, Tessa Ganserer e Nyke Slawik.
Em contraste, no partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) elas representam apenas 13% de sua bancada.
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