O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, finalmente decidiu nesta segunda-feira (25) não expulsar os dez embaixadores ocidentais que tinham manifestado apoio a um opositor.
Os embaixadores de Estados Unidos, Canadá, França, Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Nova Zelândia, Noruega e Suécia se mobilizaram a favor de Osman Kavala, que permanece detido há quatro anos sem ter sido julgado.
Os diplomatas "voltaram atrás" e "serão mais prudentes no futuro", declarou o chefe de Estado turco, após uma longa reunião de seu governo, na qual, ao que tudo indica, ele foi advertido sobre as consequências desastrosas que poderiam acarretar uma nova crise internacional.
Os 10 embaixadores irritaram Erdogan depois que solicitaram, no dia 18 de outubro, uma "solução justa e rápida para o caso de Osman Kavala".
Para o presidente turco, esse texto constituía um "ataque" e um "enorme insulto" contra a Justiça turca. "Nossa intenção não era provocar uma crise, mas proteger nossos direitos, nossa honra, nosso orgulho e nossos interesses soberanos", comentou.
Anteriormente, em uma mensagem do Twitter, a maior parte das embaixadas envolvidas afirmou agir "conforme a Convenção de Viena e seu artigo 41", que enquadra as relações diplomáticas e proíbe qualquer interferência dos assuntos internos do país anfitrião.
A declaração foi "recebida positivamente" pelo presidente turco, segundo a agência oficial Anadolu.
Este primeiro sinal de apaziguamento causou um rápido aumento da lira turca, que iniciou o dia com uma mínima histórica.
'Criar distração'
A iniciativa poderia atrapalhar a agenda internacional de Erdogan para o próximo fim de semana, já que, no sábado (30), ele participa da reunião do G20, grupo integrado pelos países mais ricos do planeta, em Roma, na Itália, e no domingo (31), da conferência sobre o clima da ONU (COP26), em Glasgow, na Escócia.
Além disso, Erdogan espera se encontrar com o presidente americano, Joe Biden, na capital italiana.
As relações entre Ancara e Washington estão bastante frias, principalmente por causa dos contratos de compra de caças F-35 - já pagos, mas não entregues - e de um pedido de peças de reposição para os F-16. Além disso, existe o episódio envolvendo a compra de um sistema de defesa aérea russo S-400 por parte do governo turco, apesar de a Turquia ser um país-membro da Otan.
Segundo os analistas, o anúncio de Erdogan tem como objetivo "criar uma distração", no momento em que a Turquia atravessa uma dura crise econômica, com uma taxa oficial de inflação de 20% e sua moeda com forte desvalorização.
Para Didier Billion, vice-diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS, na sigla em francês), especialista na Turquia, talvez o "ministro das Relações Exteriores da Turquia tenha conseguido trazer [Erdogan] para a realidade: a Turquia não poderia ficar contra seus principais parceiros".
"Agora, será difícil gerenciar isso com o seu eleitorado", previu o especialista. "Ele não saiu fortalecido" deste episódio, opinou.
Após o comunicado, os dez embaixadores foram convocados ao Ministério das Relações Exteriores da Turquia, depois que Ancara considerou a demanda "inaceitável".
'Acusações conspiratórias'
Osman Kavala, um rico empresário e filantropo de 64 anos, nascido em Paris, foi mantido sob custódia em uma prisão no início de outubro depois que um tribunal de Istambul afirmou que "faltavam elementos para conceder a liberdade".
O opositor, que sempre negou as acusações apresentadas contra ele, comparecerá a uma audiência em 26 de novembro.
Em dezembro de 2019, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) exigiu a "libertação imediata" de Kavala, mas sem sucesso.
Para Hasni Abidi, professor de Relações Internacionais da Universidade de Genebra e diretor do Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Mundo Árabe e o Mediterrâneo (CERMAM), com o gesto, o presidente turco fala especialmente para sua base e os nacionalistas que "apoiam as acusações de conspiração do chefe de Estado".
"Não estou seguro de que Kavala tenha obtido algum benefício com a midiatização" de seu caso, advertiu o professor.
Por sua vez, Timur Kuran, professor de Economia e de Ciência Política na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, afirma que "Erdogan não pode permitir a libertação de Kavala agora, pois o faria parecer frágil".
"Kavala está virando um herói internacional, uma espécie de Navalny turco", sentenciou.
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