Os Estados Unidos diminuíram a tensão com a China sobre Taiwan nesta sexta-feira (22), ao garantirem que seu posicionamento sobre a ilha não sofreu alterações, mesmo que tenham afirmado no dia anterior que a defenderiam em caso de um ataque de Pequim.
Questionado na quinta-feira (21) sobre a possibilidade de uma intervenção militar americana para socorrer Taiwan, o presidente democrata Biden respondeu de maneira afirmativa.
"Sim. Estamos comprometidos com isso", declarou ao canal CNN, durante um encontro com seus eleitores em Baltimore.
Os comentários de Biden vão na contramão da antiga política americana de "ambiguidade estratégica", com a qual Washington ajudava Taiwan a construir suas defesas, mas sem se comprometer a sair em apoio da ilha.
A China pediu nesta sexta-feira que Biden aja "com prudência" após suas declarações de ontem.
Algumas horas depois, Washington se retificou e afirmou que sua política com Taiwan não sofreu alterações.
"O presidente não estava anunciando nenhuma mudança na nossa política, nossa política se mantém inalterada", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, reiterando um comentário anterior da Casa Branca.
"Manteremos nossos compromissos, continuaremos apoiando a autodefesa de Taiwan e continuaremos nos opondo a qualquer mudança unilateral no status quo", disse Price a repórteres.
Atualmente, Taiwan tem um sistema político democrático.
Desde 1945, este pequeno território insular é governado por um regime que se instalou após a vitória dos comunistas na China continental em 1949, na esteira da guerra civil no país asiático.
A "República Popular da China", que tem Pequim como capital e é governada pelo Partido Comunista, considera a ilha uma pequena parte de seu território.
As autoridades chinesas ameaçam usar a força, caso Taipé declare formalmente sua independência.
O secretário da Defesa americano Lloyd Austin evitou responder nesta sexta-feira se os Estados Unidos apoiarão Taiwan no caso de uma hipotética intervenção militar do gigante asiático.
"Não me pronunciarei sobre hipótese alguma" sobre a ilha, declarou à imprensa, mas afirmou que "continuaremos ajudando Taiwan com as competências que precisar para se defender".
"Sinais equivocados"
Ao comentar as declarações de Biden, o governo de Pequim pediu ao presidente americano que "não interfira em seus assuntos internos".
"Sobre as questões relacionadas com seus interesses fundamentais, como soberania e integridade territorial, a China não tem espaço para compromissos", afirmou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin.
"Pedimos à parte americana (...) para atuar com prudência sobre o tema de Taiwan e se abster de enviar sinais equivocados aos ativistas separatistas taiwaneses para não prejudicar gravemente as relações China-EUA", completou o porta-voz.
"Suspeito de que Biden não pretendia anunciar nenhuma mudança", declarou à AFP Richard McGregor, pesquisador do instituto australiano Lowy.
"Ou não se importava com o que estava dizendo ou, talvez, estivesse decidido a adotar deliberadamente um tom mais duro, devido a como Pequim intensificou o assédio militar a Taiwan nos últimos tempos", completou.
Biden fez uma promessa semelhante em agosto, quando declarou que os Estados Unidos assumiram o "compromisso sagrado" de defender os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Canadá e na Europa, e "o mesmo vale para Japão, Coreia do Sul e Taiwan".
Incursões
Ao ser questionado sobre se os Estados Unidos também poderiam enfrentar o desenvolvimento de programas militares na China, Biden também respondeu de maneira afirmativa.
"China, Rússia e o resto do mundo sabem que temos a capacidade militar mais poderosa do mundo", disse o presidente americano.
Ao mesmo tempo, Biden reiterou o desejo de não participar de uma nova Guerra Fria com a China.
Pequim e Washington divergem em muitos temas, mas a questão de Taiwan é considerada, com frequência, como o único problema que provavelmente provocaria um confronto armado.
O próximo embaixador na capital chinesa, Nicholas Burns, destacou na quarta-feira que não é conveniente confiar na China na questão de Taiwan. Nesse sentido, recomendou vender mais armas para esta pequena ilha, de modo a fortalecer sua defesa.
O diplomata, que falou na Comissão de Relações Exteriores do Senado - que deve confirmar sua nomeação -, também denunciou as recentes incursões de aviões chineses na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ), as quais chamou de "repreensíveis".
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