A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) decidiu concentrar seus esforços na proteção dos territórios aliados contra ameaças da Rússia e da China, com novos planos discutidos na quinta-feira e sexta-feira pelos ministros da Defesa do bloco.
Trata-se de uma oportunidade de alto nível na Otan para analisar o desastre da retirada das tropas aliadas do Afeganistão e o retorno do Talibã ao poder naquele país após 20 anos de intervenção armada.
"Há uma transformação em andamento. Reduzimos significativamente o envio de missões fora dos territórios da aliança e estamos fortalecendo a defesa coletiva", disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, antes do início da reunião.
"Os ministros da Defesa aprovarão novas metas de capacidade e novos planos de defesa para a área euro-atlântica", disse Stoltenberg.
"O objetivo é ter as forças adequadas nos lugares adequados e no momento adequado", insistiu.
A reunião teve início às 13h00 (10h00 de Brasília) em Bruxelas, após a chegada do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, e terá duração de dois dias.
Na sexta-feira, os debates serão dedicados aos laços com a União Europeia e espera-se uma difícil discussão sobre a vontade de alguns países em adquirir capacidade de ação militar autônoma quando a Otan não puder ou não quiser participar.
A modernização dos arsenais da Rússia e da China - dois países que se equipam com mísseis hipersônicos, investem no espaço e são acusados de realizar ataques cibernéticos contra interesses ocidentais - estão impulsionando essa revisão de estratégia, disse Stoltenberg.
"Devemos fortalecer nossa vantagem tecnológica com os meios do novo fundo de inovação em segurança, dotado de 1 bilhão de dólares, e com a estratégia de inteligência artificial", apontou.
Liderança americana questionada
A reunião na sede da Otan será "a primeira oportunidade de aprender as lições da retirada" do Afeganistão, disse o funcionário norueguês.
Stoltenberg expressou seu desejo de que "as diferenças de opinião" sobre a retirada do Afeganistão não provoquem "dissidência entre os Estados Unidos e os europeus", defendeu.
De sua parte, Austin disse estar pronto para discutir as "lições a serem aprendidas" com o fiasco no Afeganistão, onde o Talibã rapidamente preencheu o vácuo deixado pela Otan e tomou o poder em poucos dias.
"A discussão com certeza será muito acalorada", previu o representante de um país europeu.
Vários países criticaram abertamente o acordo alcançado entre os Estados Unidos e o Talibã, bem como a recusa dos Estados Unidos em adiar a saída das tropas aliadas para facilitar a retirada de colaboradores afegãos.
"A missão no Afeganistão não foi um fracasso", opinou Stoltenberg nesta quinta-feira. "Mas a forma como foi organizada a consulta sobre a retirada não foi satisfatória", afirmam vários aliados.
Assim, o secretário dos Estados Unidos e o próprio Stoltenberg serão cobrados.
"Não foi organizada nenhuma consulta sobre a implementação da decisão de retirada; nenhum calendário foi discutido; o secretário-geral e seu adjunto estavam de férias durante a retirada", reclamou um diplomata europeu.
Stoltenberg admitiu que a falta de uma estratégia de saída contribuiu para as dificuldades e "isso tem que fazer parte da análise do que deu errado"
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