Dezenas de pessoas se reuniram em frente à sede da Netflix nesta quarta-feira (20) para protestar contra a transmissão de um especial de comédia e acusaram a plataforma de streaming de lucrar com conteúdo que prejudica a comunidade LGBTQ.
Alguns funcionários da Netflix saíram para participar da manifestação, à qual se juntaram ativistas trans e seguidores que exigiam melhor representação na programação deste gigante do streaming.
As críticas surgiram com o lançamento de "The Closer", no qual o comediante americano Dave Chappelle afirma que "gênero é um fato" e acusa a comunidade LGBTQ de ser "muito sensível".
"Esperamos esclarecer por que as piadas feitas foram prejudiciais", disse a organizadora do protesto, Ashlee Marie Preston.
"Muito mais importante, Dave Chappelle à parte, é esta ampla discussão de como as empresas capitalizam a tensão [e usam] a ciência dos algoritmos para manipular e distorcer as percepções que temos de nós mesmos e dos outros", acrescentou.
Apesas das críticas, "The Closer" permanece entre os títulos mais assistidos na Netflix.
Na terça-feira, véspera do protesto, a empresa tentou acalmar o clima.
“Respeitamos a decisão de qualquer funcionário que opte por protestar e reconhecemos que temos muito mais trabalho pela frente na Netflix e em nosso conteúdo”, afirmou a plataforma em comunicado enviado à AFP, no qual a empresa afirma que "compreende o dano profundo que causou".
Seguindo as palavras de Terra Field, uma funcionária trans da Netflix, os manifestantes pediram que a plataforma adicionasse um aviso a "The Closer" e promovesse mais "comediantes e talentos queer e trans".
“Um lugar não pode ser um bom lugar para trabalhar se alguém tem que trair sua comunidade”, escreveu Field em um blog na segunda-feira.
"The Closer" foi condenado por grupos LGBTQ, citando estudos que afirmam que os estereótipos causam danos nas minorias.
Em texto dirigido aos funcionários da empresa, o chefe de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos escreveu, dias atrás, que "o conteúdo da tela não se traduz diretamente em agressão no mundo real" e enfatizou a importância de defender a "liberdade artística".
Um erro
Mas, dias depois, deu entrevistas para várias publicações de Hollywood nas quais admitiu ter errado.
"Eu deveria ter primeiro reconhecido nesses e-mails que um grupo de nossos funcionários estava sofrendo, e que eles estavam realmente feridos por uma decisão que tomamos na empresa", disse ao The Hollywood Reporter.
E, embora concorde que "o conteúdo na tela pode ter impacto na vida real, positivo e negativo", Sarandos reiterou sua posição de que o especial Chappelle não deve ser retirado nem ter um aviso de advertência.
“Esse grupo de funcionários se sentiu um pouco traído porque criamos um lugar tão bom para trabalhar que às vezes esquecem que esses desafios vão aparecer”, acrescentou Sarandos.
Três funcionários, incluindo Field, foram supostamente suspensos após interromper uma reunião executiva virtual para discutir o episódio, mas foram reintegrados posteriormente. Outro foi demitido por vazar dados internos sobre o custo do especial de Chappelle.
A greve e a manifestação ganharam o apoio de estrelas de ptoduções do streaming como Jameela Jamil ("The Good Place") e Jonathan Van Ness ("Queer Eye"), que gravou um vídeo para expressar "amor e apoio" ao movimento.
Um pequeno contraprotesto também se reuniu na quarta-feira para apoiar Chappelle com faixas dizendo "Piadas são engraçadas".
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