O secretário de Estado americano, Antony Blinken, iniciou uma viagem para ampliar e fortalecer laços com as democracias da América Latina. Ele chegou ao Equador nesta terça-feira (19), logo após o país declarar de surpresa um estado de emergência para combater o tráfico de drogas.
Blinken chegou por volta das 13h locais (15h de Brasília) a Quito, onde tem previsto um almoço com o presidente Guillermo Lasso, um empresário conservador que se tornou o favorito de Washington desde sua inesperada vitória eleitoral no início do ano.
Lasso, em uma declaração surpresa no momento em que Blinken estava deixando Washington, disse que estava enviando as forças armadas e a polícia para as ruas de todo o Equador em uma emergência de 60 dias.
“Nas ruas do Equador, só existe um inimigo: o narcotráfico”, afirmou Lasso em um discurso transmitido pela televisão após uma onda de violência no país.
Blinken fará um discurso na quarta-feira na capital equatoriana, provavelmente com foco nas críticas aos líderes de esquerda da Venezuela, Cuba e Nicarágua.
Em seguida, partirá para a Colômbia, também liderada por um presidente de direita, Iván Duque, um aliado próximo do ex-presidente dos EUA Donald Trump. Biden mantém em boa medida o apoio, apesar dos apelos de alguns democratas para que ele se manifeste com mais força contra a repressão contra protestos.
Antes da viagem, o governo de Joe Biden elogiou os dois líderes, apontando-os como defensores da democracia em uma região de crescente turbulência política.
"O progresso imediato que o presidente Lasso conseguiu na entrega de vacinas contra a covid-19 em comparação à administração anterior é um exemplo concreto do que um governo transparente e democrático pode conseguir", disse Brian Nichols, alto funcionário da diplomacia dos Estados Unidos para a América Latina.
Novo tipo de relação
Blinken se reunirá com grupos de defesa dos direitos humanos e também vai abordar dois temas cruciais para a administração Biden: mudança climática e migração.
"É uma viagem importante a favor da democracia para o secretário Blinken, mas também é um realinhamento das relações com as democracias da América Latina, que vai além dos assuntos tradicionais que dominaram o debate durante muitos anos", disse Muni Jensen, ex-diplomata colombiana e atual consultora no Albright Stonebridge Group em Washington.
A Colômbia agradou o governo Biden ao adotar algumas das metas mais ambiciosas da América Latina sobre mudança climática antes da reunião de cúpula sobre o meio ambiente da ONU em novembro, enquanto o Equador é especialmente sensível ao tema por conta das ilhas Galápagos.
Em Bogotá, autoridades afirmaram que Blinken se reunirá com ministros da região para falar sobre as políticas de migração, em um momento de elevado fluxo de haitianos que buscam iniciar a longa viagem aos Estados Unidos a partir da Colômbia.
Kevin Whitaker, embaixador americano na Colômbia entre 2014 e 2019, disse que a mensagem de Blinken sobre a democracia - e sobre problemas nas fronteiras, além da cooperação na área de segurança - pode ter um impacto significativo no momento em que a China abre passagem na América Latina.
"A democracia está de alguma maneira estremecida no continente. Observamos o populismo autoritário crescer", disse Whitaker.
A era Trump e o ataque ao Capitólio de seus simpatizantes em 6 de janeiro "serviram para desacreditar o modelo da democracia americana para algumas elites em relação ao que sempre acreditaram que os Estados Unidos representariam na região", completou.
Divergências com a Venezuela
A aposta mundial de Biden pela democracia, ao contrário da proximidade de Trump com os autocratas, é sutil na América Latina.
Por sua defesa do meio ambiente, a administração Biden intensificou as conversas com o Brasil, país de maior população do continente cujo presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, ameaça não aceitar o resultado da eleição de 2022.
Biden também mantém a pressão sobre líderes de esquerda autocráticos na Venezuela, Cuba e Nicarágua, depois que a linha dura adotada por Trump rendeu dividendos políticos no estado chave da Flórida.
A viagem de Blinken acontece poucos dias depois da extradição de Cabo Verde para Miami de um empresário próximo ao presidente venezuelano Nicolás Maduro, Alex Saab, acusado de roubar milhões de dólares destinados a comida e ajuda em um país que enfrenta a pobreza extrema.
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