Mianmar

Presos birmaneses deixam a prisão após anistia da junta militar

Antes da anistia, mas de 7.300 pessoas estavam detidas, segundo a AAPP, que denuncia casos de torturas, estupros e execuções extrajudiciais após o golpe militar

Agência France-Presse
postado em 19/10/2021 08:55 / atualizado em 19/10/2021 13:33
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

Abraços, beijos, lágrimas... Cenas de alegria e alívio foram observadas nesta terça-feira (19) diante das penitenciárias de Mianmar com a libertação de vários presos políticos anistiados pela junta militar golpista, que enfrenta uma crescente pressão internacional.

Depois de quase seis meses de detenção, Than Toe Aung abraçou a irmã que passou horas esperando por sua saída na tristemente célebre penitenciária de Insein, em Yangon, para onde foram enviados muitos dissidentes após o golpe de Estado de fevereiro.

"Estou realmente feliz, mas agora tenho que lutar pelos que continuam detidos", afirmou à AFP, antes de fazer para a multidão a saudação com três dedos levantados, gesto copiado dos filmes "Jogos Vorazes" e que virou um símbolo da resistência em Mianmar.

"Temos que seguir trabalhando até a vitória", gritou outro ativista no veículo que o levou para longe do centro de detenção. Outros prisioneiros deixaram o local em ônibus e acenaram para os familiares.

Na segunda-feira, por ocasião da festa budista das luzes Thadingyut, a junta militar anunciou a libertação de mais de 5.000 pessoas que foram detidas durante o movimento de protesto e desobediência civil que deixou o país em um cenário de caos após o golpe.

O regime respondeu com uma repressão violenta que, segundo uma organização local, deixou um balanço de mais de 1.100 civis mortos e mais de 8.000 detidos.

Diante da prisão em Yangon, lágrimas de alívio e sorrisos se alternavam com mensagens políticas. Um homem libertado abraça o filho, enquanto a mão não consegue conter o choro.

Na mesma região, a inquietação era grande entre várias famílias, que exibiam cartazes com os nomes dos parentes que não conseguem visitar há meses.

Nwet Nwet San tinha a esperança de encontrar o filho, um soldado desertor.

"Está detido há oito meses", contou à AFP. "Ouvi que libertariam principalmente manifestantes, mas também afirmaram que soltariam outras pessoas e estou esperando".

Kyi Kyi, funcionária de uma fábrica, disse que o marido está preso desde fevereiro. "Eu vim ontem, mas não libertaram. Espero que seja liberado hoje", disse.

A junta militar não revelou detalhes sobre as pessoas liberadas e as autoridades penitenciárias não responderam aos pedidos de informação da AFP.

"Técnica de distração"

A anistia é considerada principalmente um gesto simbólico direcionado à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que decidiu excluir o comandante da junta militar birmanesa, o general Min Aung Hlaing, de sua próxima reunião de cúpula no fim de outubro.

O bloco, muito criticado por sua ineficácia, tomou a decisão excepcional diante da falta de avanços em um plano regional para restabelecer o diálogo e facilitar a chegada de ajuda humanitária a Mianmar.

O golpe encerrou um breve intervalo democrático do país, com um governo civil liderado de fato por Aung San Suu Kyi, vencedora do prêmio Nobel da Paz em 1991.

A mulher de 76 anos está em prisão domiciliar desde fevereiro e enfrenta várias acusações judiciais, que podem resultar em penas de prisão de décadas.

Muitos analistas denunciam um processo político para neutralizar aquela que foi um ícone do experimento democrático no país e a grande vencedora das eleições de 2015 e 2020.

Antes da anistia, mas de 7.300 pessoas estavam detidas, segundo a Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP), que denuncia casos de torturas, estupros e execuções extrajudiciais após o golpe militar.

A AAPP classificou a medida como "técnica de distração" destinada aos governos estrangeiros e considera que o exército "não tem a intenção de reduzir a repressão".

Esta libertação em massa é "uma manobra cínica (...) que não conseguirá melhorar a reputação do regime", disse Richard Horsey, do centro de análise International Crisis Group.

Antes da anistia, a junta militar libertou mais de 2.000 manifestantes antigolpistas em junho, incluindo jornalistas críticos ao governo.

Entre os que permanecem presos está o jornalista americano Danny Fenster, detido desde 24 de maio.

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