A polícia sudanesa dispersou com gás lacrimogêneo, nesta segunda-feira (18), novas manifestações pró-exército em frente à sede do primeiro-ministro Abdullah Hamdok, na capital Cartum, informaram as autoridades, no terceiro dia de grandes protestos no Sudão.
Hamdok, que deixou seu escritório para comparecer a uma reunião "urgente", disse que o atual momento de agitação social representa "a pior crise e a mais perigosa" no país, desde que começou uma precária transição após a destituição de Omar al-Bashir em 2019.
As manifestações atuais ocorrem em um momento de divisão da política sudanesa entre os defensores de uma facção militar e os incondicionais de um governo civil, que foram a ponta de lança da revolta popular que acabou com três décadas de ditadura do general Al-Bashir.
"Grupos de policiais impediram uma tentativa de ataque à sede do governo", informaram as autoridades estatais em um comunicado.
Antes de tentarem entrar na sede do Executivo, os manifestantes gritaram "abaixo (o Executivo de) Hamdok", um economista que trabalhou para as Nações Unidas.
Para os apoiadores do atual governo civil, esses protestos representam um "golpe de Estado" iminente, em um país que já sofreu vários.
"Governo de soldados"
Os protestos começaram no sábado com manifestantes acampados em frente ao palácio presidencial, nos quais participaram pessoas de várias regiões do país e que chegaram à capital após terem andado centenas de quilômetros.
Eles pedem a destituição do governo civil estabelecido após a queda de Al Bashir que monitora a transição para eleições previstas para 2023.
"O governo civil fracassou", afirmou Tahar Fadl al Mawla, de 52 anos, um chefe tribal que falou em uma barraca montada em frente ao palácio presidencial.
"Queremos um governo de soldados que proteja a transição", acrescentou.
Um grupo de manifestantes participou de uma marcha que foi da sede da presidência até a do governo, que foi interrompida pela intervenção da polícia.
- "Muito bem organizado" -Ao contrário dos outros protestos pró-exército, os dos últimos dias foram bem organizados e contaram com um apoio considerável da população.
"Recebemos comida de indivíduos ou de organizações, assim como de um comitê de gestão do protesto", explicou à AFP Ahmed Adam, encarregado de alimentar a os manifestantes.
"Tudo está muito bem organizado", destacou Mohamed Isa, de 57 anos, um camponês que viajou do leste do país até a capital.
"O levante que derrubou a ditadura foi autofinanciado, enquanto alguns suspeitam que uma parte dos militares está financiando este protesto", explicou à AFP o cientista político Othman Mirghani.
As manifestações de 2019 foram maiores e contaram com um número maior de jovens e mulheres.
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