Vários governantes de todo o mundo, incluindo os presidentes do Chile, Equador e República Dominicana, estão listados nos "Pandora Papers", uma investigação jornalística internacional publicada neste domingo que revela a ocultação de ativos em paraísos fiscais por figuras públicas.
A investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) - envolvendo cerca de 600 jornalistas, inclusive do The Washington Post, BBC e The Guardian - se baseia no vazamento de cerca de 11,9 milhões de documentos de 14 empresas de serviços financeiros em todo o mundo.
No caso do presidente chileno, Sebastián Piñera, os veículos de mídia locais CIPER e LaBot, que participaram da investigação, revelaram a negociação nas Ilhas Virgens Britânicas da mineradora Dominga pelo empresário Carlos Alberto Délano, um dos "amigos de infância" de Piñera.
Segundo o jornal espanhol El País, a empresa da família Piñera-Morel vendeu o negócio a Délano com um contrato assinado no Chile por 14 milhões de dólares e outro nas Ilhas Virgens por 138 milhões. A operação remonta a dezembro de 2010, quando Piñera estava havia nove meses no Palacio de La Moneda.
O pagamento da operação teve de ser feito em três parcelas, a última sujeita ao “não estabelecimento de área de proteção ambiental sobre a zona de atuação da mineradora, conforme reivindicam grupos ambientalistas", cita o veículo espanhol.
O governo de Piñera decidiu não promover a proteção ambiental na área, condição sob a qual o último pagamento teria sido realizado.
“O presidente nunca participou ou teve qualquer informação sobre a venda da Minera Dominga”, afirmou a presidência chilena em nota.
Piñera foi investigado pela transação em 2017 e “o Ministério Público recomendou encerrar o caso por inexistência de crime, conforme a lei e a falta de participação do presidente Sebastián Piñera na operação citada”, diz o comunicado presidencial.
A investigação do ICIJ também aponta a ligação de Luis Abinader, presidente da República Dominicana, com duas sociedades no Panamá, Littlecot Inc. e Padreso SA, ambas criadas antes de ele assumir o cargo, segundo apuração do Noticias Sin.
De acordo com o meio, as ações dessas empresas eram "ao portador", um "instrumento utilizado para ocultar os beneficiários das companhias".
Abinader “foi registrado publicamente como beneficiário em 2018, três anos após a entrada em vigor de uma lei que obriga as empresas a divulgarem a identidade de seus proprietários”, observa El País.
“Ao tomar posse como presidente, em 2020, o presidente declarou nove sociedades offshore que controlava por meio de um fundo fiduciário. Abinader garante que não tem qualquer participação em sua gestão”, acrescentou a mídia.
O terceiro presidente a aparecer na investigação é o equatoriano Guillermo Lasso. Segundo o jornal El Universo, o governante controlava 14 empresas offshore, a maioria delas sediadas no Panamá, e as fechou depois que o correísmo aprovou uma lei que proibia os candidatos presidenciais de terem empresas em paraísos fiscais.
Lasso, um ex-banqueiro, “alega que colocou dinheiro no exterior porque a legislação nacional impede os banqueiros de investir em seu país”, indicou El País.
A investigação também inclui os nomes de 11 ex-presidentes latino-americanos: os panamenhos Juan Carlos Varela, Ricardo Martinelli e Ernesto Pérez Balladares; os colombianos César Gaviria e Andrés Pastrana; o peruano Pedro Pablo Kuczynski; o hondurenho Porfirio Lobo e o paraguaio Horacio Cartes.
O ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, homem de confiança do presidente Jair Bolsonaro, também aparece nos documentos vazados.
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