Uma festa de aniversário de “Júnior”, líder da gangue Los Choneros, na noite de 24 de setembro, provocou a fúria de dois bandos rivais, Los Lobos e Tiguerones, na Penitenciária del Litoral, em Guayaquil, no sudoeste do Equador. Quatro dias depois da celebração, uma guerra entre as facções rivais desencadeou um motim que deixou pelo menos 116 mortos e 80 feridos. “É uma tragédia, algo tremendo o que está se passando, esta disputa entre grupos delinquentes organizados, que, na busca pelo poder interno, chegaram esses níveis. É terrível a situação”, afirmou Bolívar Garzón, diretor do SNAI, o sistema carcerário do Equador, em entrevista à rádio FM Mundo. A gangue Los Choneros é conhecida por manter laços com o poderoso cartel do narcotráfico mexicano de Sinaloa.
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, decretou estado de exceção nacional em todo o sistema carcerário do país e criou um comitê de crise, formado pela ministra de Governo, Alexandra Vela; pelo ministro da Defesa, Fernando Donoso; e pelo governador do departamento (estado) de Guayas, Pablo Arosemena Marriot. A medida suspende o direito à inviolabilidade de correspondências em presídios e a liberdade de associação e de reunião. Também permite ao Executivo usar a força pública para restabelecer a normalidade.
“Acabo de decretar estado de exceção em todo o sistema carcerário, em âmbito nacional. Em Guayaquil, presidirei o comitê de segurança para coordenar as ações necessárias que controlem a emergência, garantindo os direitos humanos de todos os envolvidos”, escreveu Lasso em seu perfil no Twitter, antes de viajar à segunda maior cidade do país.
Garzón explicou que a polícia conseguiu controlar a penitenciária por volta das 14h de terça-feira (16h em Brasília). No entanto, durante a madrugada de ontem, houve tiroteios e explosões no centro prisional. “Conseguimos o controle total hoje (ontem) pela manhã. Estamos entrando nos pavilhões e descobrindo mais cadáveres”, acrescentou o diretor do SNAI.
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Cabeça
Uma mulher de 35 anos contou ao jornal El Universo, de Quito, que conversava com o marido, detento da Penitenciária del Litoral, às 8h50 de terça-feira. Minutos depois, soube da rebelião por meio da televisão. “Quando eu o chamei, não me respondeu. Na madrugada de hoje (ontem), reconheci a cabeça dele em um vídeo. Os outros presos a mantinham dentro de uma caixa”, afirmou.
Ante a falta de notícias, o desespero tomou conta de vários familiares de prisioneiros. “Queremos informação, pois não sabemos nada sobre nossas famílias, nossos filhos. Tenho o meu filho aqui, não sei nada sobre meu filho”, afirmou à agência France-Presse (AFP) uma mulher, sob a condição de não ter o nome revelado.
A rebelião de terça-feira já se transformou na mais mortífera do país neste ano. Em fevereiro, quatro rebeliões simultâneas em diferentes presídios de três cidades equatorianas tiveram como saldo a morte de 79 detentos, entre eles vários decapitados. Em julho, outros dois motins deixaram dezenas de mortos. Os motins agravaram a crise penitenciária no Equador, causada pelos confrontos entre organizações criminosas vinculadas aos cartéis mexicanos de Sinaloa e de Jalisco Nova Geração.
A violência se tornou permanente nos 65 presídios equatorianos, que abrigam 39 mil detentos, apesar da capacidade para 30 mil. Segundo a Defensoria Pública, em 2020 ocorreram 103 assassinatos nas penitenciárias do país, onde a corrupção facilita a entrada de armas e munições.