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R. Kelly: os relatos de abuso sexual que condenaram cantor

A promotora federal Elizabeth Geddes aponta para R. Kelly durante o julgamento


Ao longo de mais de cinco semanas, quase uma dúzia de vítimas de R. Kelly testemunharam em um tribunal de Nova York, fornecendo detalhes sobre os abusos e maus-tratos que sofreram nas mãos do famoso cantor.

Muitos dos 11 homens e mulheres, alguns dos quais não podem ser identificados publicamente, disseram ter feito sexo com R. Kelly quando eram menores de idade. Eles o descreveram como controlador, agressivo e violento — e disseram que ele exigia ser chamado de "papai".

Outras mulheres dizem que foram forçadas a escrever cartas com falsas confissões que mais tarde poderiam ser usadas contra elas como chantagem.

Em 27 de setembro, R. Kelly foi considerado culpado de acusações de extorsão e tráfico sexual. Ele receberá sua pena em 4 de maio do ano que vem.

Mas o que as vítimas disseram sobre o artista, que agora deve passar boa parte de sua vida atrás das grades?

'Eu estava fugindo dele e tentando resistir'

Uma testemunha — identificada como Jane Doe Número 5 (algo como Fulana Número 5, em inglês) — disse que R. Kelly abusou dela repetidamente ao longo de um relacionamento de cinco anos, que começou quando ela era apenas uma aspirante a cantora de 17 anos em 2015.

Hoje com 23 anos, a testemunha também declarou que contraiu herpes do cantor aos 17 anos depois de fazer sexo com ele. Ela disse que ele não havia contado que tinha uma doença sexualmente transmissível, o que é obrigatório por lei.

"Este homem me passou de propósito uma doença que ele sabia que tinha", disse ela. "Ele poderia ter controlado a situação." O médico de R. Kelly testemunhou mais tarde que o cantor vinha sendo medicado para herpes desde 2007.

Quando ela o confrontou, ele ficou "agitado e me disse que eu poderia ter pego herpes de qualquer pessoa. Eu respondi que só tinha tido relação íntima com ele".

Quando ela começou a ter dores fortes a ponto de impossibilitar o sexo entre ambos, R. Kelly reclamou que o corpo dela estava "estragado".

Outra mulher identificada pelo nome de Faith disse que Kelly a havia infectado com herpes, e uma terceira mulher identificada pelo pseudônimo de Kate disse ter recebido uma indenização de US$ 200 mil (R$ 1 milhão) de Kelly depois de ter contraído o vírus dele.

Além disso, Jane disse que R. Kelly tentava controlar todos os aspectos de sua vida diária e a "castigava" por qualquer desobediência. Ele às vezes a punia batendo forte o suficiente para deixar hematomas e "rasgar sua pele".

"Eu seria castigada quase a cada dois ou três dias", disse a mulher no tribunal.

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Em um incidente, Jane testemunhou que R. Kelly a agrediu com um sapato tamanho 12 (número 44 no sistema brasileiro) depois de descobrir que ela havia mandado uma mensagem para um amigo sobre ele. "Ele bateu em mim", disse ela. "Eu estava fugindo dele e tentando resistir."

Jane também afirmou que R. Kelly a pressionou a fazer um aborto indesejado depois que ele a engravidou. Um de seus assistentes a levou de carro até a clínica.

R. Kelly também forçou Jane a gravar vídeos humilhantes de si mesma como punição, incluindo um em que ela tinha que esfregar fezes no rosto, disse ela.

Ela disse que ele ainda ameaçou obrigá-la a repetir o a gravação do vídeo porque ela "não estava convincente o suficiente".

Outra mulher identificada como Anna disse que R. Kelly a obrigou a gravar vídeos "sendo sensual e sedutora com fluidos corporais".

Jerhonda Pace

A primeira testemunha, Jerhonda Johnson Pace, disse ao júri que R. Kelly sabia que ela era menor em 2009 quando tiveram relações sexuais em Chicago, onde a idade de consentimento é 17 anos.

Hoje com 28 anos, ela disse no primeiro dia do julgamento que havia inicialmente dito a R. Kelly que tinha 19 anos, mas revelou sua verdadeira idade no dia em que fizeram sexo pela primeira vez.

"Ele queria que eu prendesse meu cabelo em rabo de cavalo e me vestisse como uma escoteira", disse ela mais tarde ao tribunal, acrescentando que ele fez vídeos de seus encontros sexuais.

Pace também afirmou que era obrigada a pedir permissão para usar o banheiro. "Quando eu o pegava de bom humor, ele dava permissão em questão de minutos mas quando ela estava de mau humor, era forçada a esperar até três dias".

Reuters
Jerhonda Johnson Pace testemunhou no primeiro dia do julgamento

Ela disse que também era obrigada a identificar a presença do cantor sempre que ele entrava no mesmo cômodo, e que era esbofeteada e cuspida quando não se dirigia a ele com rapidez suficiente.

No interrogatório, os advogados de defesa a fizeram admitir que ela ganhou cerca de US$ 25 mil (cerca de R$ 130 mil) com um livro que ela publicou sobre suas experiências com R. Kelly. Ela disse que não foi paga por nenhuma entrevista dada a jornais e TV.

'O que você está disposto a fazer pela música?'

Dois homens testemunharam sobre os abusos que sofreram durante o período em que estiveram na equipe do cantor.

Um homem, usando o pseudônimo de Louis, disse que encontrou R. Kelly pela primeira vez em 2006, quando tinha 17 anos e trabalhava no turno da noite em um McDonald's em Chicago.

Ele disse ao tribunal que R. Kelly lhe deu seu número de telefone e o convidou para sua casa, dizendo que ele poderia usar seu estúdio de gravação. R. Kelly a certa altura perguntou o que o jovem estaria "disposto a fazer pela música".

Em uma dessas ocasiões, o cantor perguntou a Louis se ele já havia "tido alguma fantasia" envolvendo homens e, em seguida, R. Kelly supostamente "se ajoelhou e começou a me dar sexo oral", mesmo ele sendo menor de idade.

Depois, R. Kelly "disse para isso ficar apenas entre nós dois", acrescentando, "agora somos família, somos irmãos".

Outro homem, usando o pseudônimo de Alex, disse que conheceu R. Kelly quando estava no colégio secundário e que começou a ter um relacionamento com o cantor aos 20 anos.

Ele disse que R. Kelly o beijou à força em uma ocasião, dizendo-lhe para ter "a mente aberta".

R. Kelly arranjava mulheres para transar com Alex enquanto o cantor assistia e filmava tudo, às vezes se juntando ao casal ou se masturbando.

Ele descreveu as mulheres com quem dormiu como "zumbis", dizendo que estava proibido de falar com elas fora do sexo e de saber seus nomes.

R. Kelly, disse Alex, se referia a ele pelo apelido de "sobrinho", apesar de eles não terem parentesco.

'Eu nem sabia se iriam acreditar em mim'

Uma mulher, que testemunhou sob o pseudônimo de Addie, disse que foi estuprada pelo cantor nos bastidores de um show em Miami.

Addie disse que ela e sua amiga foram abordadas por dois homens "que pareciam seguranças" e convidadas para os bastidores após o show.

Uma vez lá, ela disse que R. Kelly tirou todo mundo da sala e a estuprou violentamente.

"Neste ponto, eu fiquei em choque total", disse ela ao tribunal. "Eu simplesmente tive um branco."

Posteriormente, sua amiga quis entrar em contato com a polícia, mas Addie temia que ela fosse incluída na lista negra da indústria do entretenimento se ela denunciasse.

"Eu nem sabia se iriam acreditar em mim", disse ela. "Eu não queria ser 'victim-shamed' (culpabilização da vítima, em que o alvo de um crime é tratado como se fosse culpado pela agressão que sofreu)."

O ataque ocorreu apenas dois dias após o casamento de R. Kelly com a cantora Aaliyah, que era menor de idade.


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