Afeganistão

Saída de estrangeiros afeta vendedores de tapetes e antiguidades em Cabul

O turismo caiu durante e depois da guerra soviético-afegã, que começou em 1979, mas a Chicken Street ressurgiu após a invasão dos Estados Unidos em 2001

Os vendedores de tapetes, antiguidades e lembranças da famosa Chicken Street de Cabul lamentam o colapso de seus negócios com a saída dos estrangeiros da capital afegã, após o retorno do Talibã ao poder.

O local antes animado, onde turistas se aventuravam em busca de tapetes tribais, cerâmicas e artesanato em metal, quase não teve visitantes no último domingo (26).

"Os negócios mudaram drasticamente, porque não temos muitos estrangeiros em Cabul", disse à AFP Abdul Wahab, um vendedor de tapetes antigos, em sua loja vazia.

"Isso afetou nossas vendas de tapetes, joias e lembranças tribais", acrescentou.

Wahab contou que a maioria de seus clientes era estrangeira, como funcionários de ONGs e diplomatas. Quase todos deixaram o Afeganistão no final de agosto, depois que os talibã invadiram Cabul e recuperaram o poder duas semanas antes.

Tapetes antigos podem valer milhares de dólares. Por isso, apenas estrangeiros e afegãos ricos eram clientes de Wahab.

Questionado sobre quantos tapetes está conseguindo vender por semana, o comerciante respondeu: "agora, nenhum".

"Hippies"

A Chicken Street era muito popular nas décadas de 1960 e 1970 entre os visitantes "hippies" de Cabul, que se hospedavam em albergues próximos e compravam roupas e haxixe.

O turismo caiu durante e depois da guerra soviético-afegã, que começou em 1979, mas a rua ressurgiu após a invasão dos Estados Unidos em 2001.

Wahab diz que, apesar da recente falta de clientes, continua "muito otimista" com a recuperação do comércio nos próximos meses.

"Nosso negócio depende apenas de segurança. Se a segurança for boa, os estrangeiros virão e comprarão tapetes e outros tecidos disponíveis no Afeganistão", afirmou.

Qadir Raouf, de 64 anos, dono de uma loja familiar de tapetes do outro lado da rua, concorda.

"No futuro, quando houver paz, poderemos fazer boas vendas", afirmou. "Agora que não há estrangeiros, espero que a situação fique calma e que as pessoas venham", completou.

Raouf é natural de Herat, no oeste do Afeganistão, mas tem sua loja de tapetes em Cabul há mais de 45 anos. Nela, vende tapetes novos e antigos de todo país.

"Estes são os nossos bens nacionais (...) Mostramos ao mundo inteiro. O povo afegão sabe fazer tapetes", elogiou.

Covid-19 e conflito

Haji Jalil vendeu itens de porcelana, alguns com até três séculos de idade, por quase 30 anos.

"Nosso negócio não tem sido bom nos últimos dois anos", lamentou, ao falar de sua loja na Chicken Street, culpando a pandemia de coronavírus pelo início do declínio.

"Esta rua depende inteiramente da economia", explicou à AFP. "Se a situação financeira das pessoas é boa, elas vêm e compram itens de decoração como tapetes, artesanato e pedras preciosas e semipreciosas".

"Agora, o comércio no Afeganistão não é muito bom", lamentou.

Ainda assim, este homem de 65 anos não tem planos de sair de sua terra. "Quero servir ao meu povo e ao meu país", declarou.

"Nosso negócio poderia estar melhor fora do Afeganistão. Os estrangeiros poderiam querer comprar nossos produtos (...) mas eu quero ter meu negócio no Afeganistão. Não vou levá-lo para outro lugar", insistiu.

Em outro ponto da rua, homens vendiam suco de romã fresco, bananas e melancias, observados por um grupo de combatentes talibãs.

Haji Niyaz parecia ter boas vendas ao meio-dia em sua padaria, mas o homem de 40 anos disse à AFP que seu negócio também está ameaçado.

"A economia está fraca" e os preços da farinha e do gás subiram, explicou.

"Antes fazíamos 4.000 pães por dia, agora 2.000. Não acho que vamos conseguir continuar", lamentou.

"Se a situação atual continuar por mais dez dias, tudo vai acabar no Afeganistão".