No último comício das eleições legislativas, marcadas pela incerteza sobre o favorito, a chanceler Angela Merkel pediu apoio a Armin Laschet, voltando a insistir que uma derrota do conservador poderá levar a Alemanha à instabilidade. Em Aachen, cidade natal do candidato, ela fez uma breve, mas contundente fala: “É preciso tomar as decisões certas (...) porque se trata do país de vocês, e vocês decidem o futuro governo que deverá garantir prosperidade, segurança e paz”, ressaltou a dirigente, de 67 anos. Tido como favorito no início da campanha, Laschet caiu nas pesquisas de intenção de voto e, agora, recuperou parte da popularidade, insuficiente, contudo, para antecipar a resposta das urnas.
Nas últimas pesquisas, o social-democrata Olaf Scholz, vice de Merkel, aparece liderando, com cerca de 25% das intenções de voto, contra 21% a 23% para a coalizão dos partidos Democratas Cristãos e União Social Cristã (CDU-CUS). Embora a chanceler, de centro-direita, encerre o quarto mandato com 80% de aprovação, Laschet é impopular e cometeu muitas gafes ao longo da campanha.
Ministro-presidente da Renânia do Norte-Vestfália, o ex-jornalista de 60 anos foi duramente criticado pela postura diante das enchentes que devastaram o norte da Alemanha em julho. O estado comandado por ele foi o mais afetado e, em uma campanha fortemente marcada por debates climáticos, a gestão da crise foi decisiva para que começasse a perder a simpatia de eleitores.
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Entrevistado por uma jornalista sobre a possibilidade de adotar medidas mais enérgicas contra a mudança climática, considerada em parte responsável pelas inundações, ele respondeu: “Desculpe, senhorita. Não é porque isso aconteceu que devemos mudar de política”, o que rendeu muitas críticas nas redes sociais, tanto pelo tom condescendente como pelo conteúdo da resposta. Depois, durante uma cerimônia de homenagem às vítimas, uma imagem provocou choque na Alemanha: Laschet, em segundo plano atrás do presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, apareceu dando risadas. Cada vez que pedia perdão, ele caía nas pesquisas de intenção de voto.
Curinga
A queda de Armin Laschet nas pesquisas levou Olaf Scholz, 63 anos, a ser um curinga inesperado. Ele encerrou sua campanha, ontem, em Potsdam, perto de Berlim. Sem fazer barulho e aproveitando os erros dos adversários, o político, apresentado pela revista Der Spiegel como “a encarnação do tédio na política”, tem grandes chances de suceder Angela Merkel, da qual deseja ser o único herdeiro, cultivando um mimetismo até nos gestos.
A recuperação dos sociais-democratas, que pareciam estar fora da disputa no início do ano, é uma surpresa em um país onde os eleitores de esquerda ficaram desencantados com a flexibilização do mercado de trabalho adotada há duas décadas pelo mentor de Scholz, Gerhard Schröder, e com a política de austeridade orçamentária defendida pelo atual candidato enquanto ministro das Finanças. Essa postura, porém, tranquiliza os alemães acostumados com a estabilidade de Merkel.
A popularidade de Merkel, de fato, levou cada um dos candidatos a reivindicar sua proximidade com a chanceler e é um bom presságio para a continuação de um curso centrista e pró-europeu. Apesar disso, Scholz afirmou, na sexta-feira, que é a cara da “renovação da Alemanha”, insistindo que o país precisa de mudanças — algo reivindicado por dezenas de milhares de jovens, que pedem ações mais incisivas em favor do clima.
Apesar da importância das questões climáticas e do trauma do país atingido pelas enchentes de julho, a causa ambiental não avançou tanto quanto o Partido Verde esperava. A candidata Annalena Baerbock obteria 15% dos votos, segundo as pesquisas, ficando em terceiro lugar, à frente do liberal FDP, com 11%.
Os Verdes devem, no entanto, desempenhar um papel importante na futura coalizão, cuja formação promete ser ainda complexa: exigirá três partidos para suceder à atual GroKo (grande coligação) formada por CDU/CSU e SPD. No leque de uniões possíveis, uma maioria dominada pela esquerda e pelos verdes, ou associando liberais e centro-direita, influenciaria as escolhas de política orçamentária, fiscal e climática do país, e suas orientações diplomáticas.