Os europeus apoiaram, nesta terça-feira (21), a França contra a Austrália e os Estados Unidos na crise dos submarinos, vista na União Europeia como um "sinal de alerta" para que reforce sua união e autonomia.
Toda a UE reagiu sem esconder sua indignação ao anúncio de uma aliança militar (AUKUS) entre Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, sem que Bruxelas tenha sequer sido informada.
Em Nova York, onde ocorre a Assembleia Geral da ONU, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, teve uma reunião com o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison.
"Uma conversa franca, direta e viva sobre o AUKUS. A clareza é necessária entre amigos. O diálogo é essencial para construirmos associações fortes", disse Michel no Twitter.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, criticou o ocorrido. "O que foi decidido, e a forma como foi decidido, foi irritante e decepcionante, não só para a França", disse.
A frustração da França foi monumental e Paris convocou seus embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália para consultas, após o anúncio da aliança AUKUS, destinada a contra-atacar a China.
Como consequência direta do novo acordo, a Austrália rompeu com um contrato bilionário com a França para a compra de submarinos, optando, em vez disso, por submarinos americanos de propulsão nuclear.
O presidente francês Emmanuel Macron conversará sobre essa questão nos próximos dias com seu homólogo americano Joe Biden, mas já falou por telefone com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, com quem se comprometeu a "agir em conjunto" para promover a estabilidade na região do Indo-Pacífico, rejeitando "qualquer forma de hegemonia".
Esta conversa permite que Paris alcance um aliado essencial na região, particularmente contra a China, após uma infinidade de sinais favoráveis: venda de Rafales à Índia, operações militares conjuntas no Oceano Índico, abertura de bases francesas ao exército indiano, entre outros.
No entanto, Nova Délhi terá que fazer um malabarismo diplomático, já que a Austrália também é sua aliada.
Na Europa, a França recebeu apoio.
"Entendo muito bem a decepção de nossos aliados franceses. É um sinal de alerta para todos nós na União Europeia", disse o ministro alemão Michael Roth em Bruxelas.
O ministro acrescentou que os Estados do bloco europeu "devem se perguntar como fortalecer nossa soberania; devemos nos perguntar como podemos mostrar mais união nas questões de política externa e de segurança".
Roth fez os comentários ao chegar a uma reunião dos ministros de Assuntos Europeus em Bruxelas. A crise que surgiu, em particular entre a França e a Austrália, não estava na ordem do dia da reunião, mas ficou claro que se tratava de uma questão prioritária.
Apoio da Europa
"É um problema europeu", afirmou o ministro francês para o bloco, Clement Beaune.
"Acho que devemos, sem agressividade e sem antagonizar nossos aliados, ser mais soberanos, mais autônomos, mais capazes de defender nossos interesses e pensar por nós mesmos. Vimos isso na crise do Afeganistão e vemos isso nesta crise", acrescentou.
Beaune agradeceu o "total apoio" que os países da UE expressaram à França, alertando que seu governo não estava exagerando a seriedade do caso.
"Não acredito que a França esteja exagerando e não acho que deva fazer isso", apontou.
Já o ministro sueco, Hand Dahlgren, comentou que os países europeus "têm de estar abertos ao mundo, de forma clara, mas também defender os nossos interesses estratégicos. Embora não o possamos fazer fechando-nos sobre nós próprios".
Na segunda-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (ex-ministra alemã da Defesa), declarou ao canal CNN que o tratamento reservado à França nesse episódio era "inaceitável".
O anúncio dessa aliança militar foi feito exatamente um dia antes da data prevista pela UE para apresentar sua nova estratégia para a região do Indo-Pacífico.
Foi precisamente na apresentação desta nova estratégia que o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, admitiu que a UE não tinha sido consultada ou informada sobre a aliança militar feita pelos três países.
A crise diplomática também deixou uma nuvem de dúvidas sobre o futuro das lentas negociações entre UE e Austrália para um acordo sobre o livre comércio, com uma reunião programada para outubro.
"Não podemos fingir que nada aconteceu, devemos abrir todas as opções", comentou Beaune nesta terça-feira, embora a ideia de "congelar" essas negociações não pareça ter apoio majoritário.
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