O presidente Joe Biden declarou ao mundo, nesta terça-feira (21), que os Estados Unidos não buscam uma nova Guerra Fria com a China, prometendo se distanciar dos conflitos pós-11 de Setembro e assumindo um papel de liderança global em crises climáticas e pandemias.
Falando na Assembleia Geral das Nações Unidas pela primeira vez como presidente, Biden prometeu trabalhar para promover a democracia e as alianças.
O governo Biden vê uma China autoritária e em ascensão como o principal desafio do século XXI, mas, em sua estreia na ONU, o presidente deixou claro que não está tentando semear divisões.
"Não estamos procurando uma nova Guerra Fria, ou um mundo dividido em blocos rígidos", disse Biden na sede da ONU em Nova York.
"Os Estados Unidos estão dispostos a trabalhar com qualquer nação que se comprometa e busque uma solução pacífica para compartilhar os desafios, embora tenhamos intensas divergências em outras áreas", afirmou ele, sem mencionar diretamente a China.
Os Estados Unidos, porém, "vão participar da competição e participar com força", alertou.
"Com nossos valores e nossa força, defenderemos nossos aliados e nossos amigos, e nos opomos às tentativas dos países mais fortes de dominarem os mais fracos", acrescentou.
Biden prometeu ainda combater as "autocracias" e "defender a democracia".
O presidente chinês Xi Jinping participará da Assembleia no final da manhã em mensagem pré-gravada de Pequim, no que é visto como um duelo de longa distância entre as duas superpotências, engajadas em um confronto cada vez mais perigoso.
'A era da diplomacia'
Antecipando esse intercâmbio, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, alertou Washington e Pequim, na abertura da principal reunião multilateral do planeta, contra uma degradação das crises mundiais que será "muito menos previsível que a Guerra Fria".
Para evitar isso, pediu às duas superpotências "diálogo" e "compreensão".
Pequim contesta a ideia de uma nova Guerra Fria como a que opôs os Estados Unidos e a União Soviética durante a segunda metade do século XX. Mas é praticamente o único ponto em que ambos os países, cujas relações estão cada vez mais tensas, concordam.
O grande encontro da diplomacia mundial, que terá duração de uma semana, era especialmente aguardado este ano, após a paralisação do ano passado devido à pandemia de covid-19 que impediu as delegações de viajarem a Nova York.
Primeiro presidente americano em 20 anos a comparecer ao fórum anual da ONU sem estar em guerra, Biden anunciou o "retorno" de seu país como parceiro confiável após quatro anos de governo de seu antecessor Donald Trump.
"Nos últimos oito meses, priorizei a reconstrução de nossas alianças, revitalizando nossos parceiros e reconhecendo que eles são essenciais para a segurança e prosperidade duradoura dos Estados Unidos", disse ele.
Na quarta-feira, assegurou, anunciará "novos compromissos" contra a pandemia e prometeu "redobrar" os esforços financeiros internacionais de Washington contra a mudança climática.
Ele também prometeu iniciar uma "era de diplomacia" após o fim da guerra no Afeganistão, garantindo que os Estados Unidos só recorrerão à força militar como "último recurso".
"A missão deve ser clara e alcançável, realizada com o consentimento informado do povo americano e, sempre que possível, em parceria com nossos aliados", explicou.
Crise com a França
Mas a retirada do Afeganistão, que terminou de forma caótica em agosto, para pesar de muitos países europeus, e a crise aberta com a França no caso dos submarinos, que estourou na semana passada, mancham sua mensagem.
A União Europeia se posicionou ao lado da França, segundo o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Sinal de que Paris não está disposta a virar a página, um assessor do presidente francês Emmanuel Macron alertou que a conversa telefônica, prevista para os próximos dias, com Joe Biden "não será uma troca de reconciliação", mas de "esclarecimento".
Para surpresa de muitos países, Macron decidiu não viajar a Nova York este ano e seu ministro das Relações Exteriores falará em nome da França por vídeo.
'Credibilidade recuperada'
Após o discurso do secretário-geral, o presidente brasileiro tomou a palavra, apresentando uma imagem idílica de seu país, "sem corrupção" e com "credibilidade recuperada" e a melhor política ambiental. Em suma, um dos "melhores países para investir", garantiu.
Outro dos primeiros líderes a passar pela tribuna da ONU foi o colombiano Iván Duque, antes do da Turquia e o novo presidente iraniano Ebrahim Raisi, que fará sua estreia no cenário internacional.
No início da tarde, intervirá em Nova York o presidente do Peru, Pedro Castillo, que encerrará sua primeira viagem internacional que o levou ao México para participar da cúpula dos países da América Latina e Caribe, e a Washington.
As mudanças climáticas e o combate à pandemia, junto com o Afeganistão, são os principais temas da agenda desta edição.