O frágil governo de transição no Sudão anunciou nesta terça-feira (21) que impediu uma tentativa de golpe de Estado com a participação de militares e civis vinculados ao destituído ex-presidente Omar al-Bashir.
"Restabelecemos a ordem após a tentativa de golpe executada por oficiais nesta terça-feira", afirmou o ministro da Informação, Hamza Balul, horas depois de a imprensa estatal revelar o movimento.
Ele disse que as autoridades "prenderam os idealizadores do golpe frustrado" e que entre eles há "militares e civis que integraram o regime de Bashir".
Horas antes, fontes do governo e das Forças Armadas afirmaram à AFP que os golpistas tentaram assumir o controle do prédio da imprensa estatal, mas fracassaram e os oficiais envolvidos foram "suspensos imediatamente".
A televisão estatal transmitiu canções patrióticas ao informar a tentativa de golpe e pediu ao povo para "enfrentar" a questão.
Mohamed al-Fekki, integrante do governo de transição, comentou que "tudo está sob controle".
O trânsito parecia normal no centro de Cartum, inclusive ao redor do quartel-general do exército, onde meses de grandes protestos provocaram a queda de Omar al-Bashir em 2019.
As forças de segurança sudanesas, no entanto, fecharam a principal ponte que atravessa o rio Nilo e liga Cartum à cidade de Omdurman.
O Sudão registrou várias tentativas de golpe desde a queda de Bashir, que as autoridades atribuíram a simpatizantes islamitas do ex-presidente e membros de seu partido, que foi extinto.
Transição
O país tem uma longa história de golpes. O próprio Bashir, um ex-general, chegou ao poder em um golpe de Estado militar respaldado por islamitas em 1989.
O Sudão está atualmente sob o comando de um governo de transição, formado por representantes civis e militares, instalado após a queda de Bashir em abril de 2019 e que deve supervisionar o retorno a um Executivo civil.
O acordo de divisão do poder, de agosto de 2019, contemplou originalmente a formação de uma Assembleia Legislativa durante uma transição de três anos, mas o prazo foi modificado após a assinatura de um acordo de paz com uma aliança de grupos rebeldes em outubro do ano passado.
Porém, após dois anos, o país continua afetado pelos graves problemas econômicos herdados do governo de Bashir e as profundas divisões entre as facções envolvidas na transição.
Além disso, a esperada Assembleia Legislativa não foi formada.
O governo liderado pelo primeiro-ministro Abdallah Hamdok se comprometeu a resolver os problemas econômicos e alcançar a paz com os grupos rebeldes que lutaram contra o regime de Bashir.
Nos últimos meses, o governo adotou uma série de reformas econômicas para obter um alívio da dívida com o Fundo Monetário Internacional.
As medidas, que incluem o corte de subsídios e uma flutuação controlada da libra sudanesa, foram consideradas muito severas por parte da população.
Protestos esporádicos foram registrados contra as reformas e o aumento do custo de vida, assim como o atraso nos pedidos de justiça por parte das famílias dos mortos sob o governo de Bashir.
Na segunda-feira, manifestantes bloquearam estradas importantes e o Porto Sudão, principal ponto comercial do país, em um protesto contra o acordo de paz de outubro com os rebeldes.