A Justiça russa condenou Facebook e Twitter a mais multas, nesta terça-feira (14/9), em meio a uma ofensiva contra as gigantes americanas da Internet, acusadas de interferência na corrida para as eleições legislativas desta semana.
Há vários meses, a Rússia reforça o cerco às redes sociais estrangeiras, porque o movimento de oposição do principal crítico do Kremlin, Alexei Navalny, tem um público muito grande na Internet.
Já condenados várias vezes por se recusarem a remover conteúdos, apesar das ordens de Moscou, o Facebook e o Twitter foram multados em 21 milhões e 5 milhões de rublos (245.000 e 58.200 euros), respectivamente, por um tribunal de Moscou.
Fundado pelo russo Pavel Durov, que vive no exterior, o aplicativo de mensagens Telegram foi multado em 9 milhões de rublos (105.000 euros).
Os americanos Facebook, Twitter e Google são acusados de má moderação de conteúdo, principalmente de conteúdo político, e foram questionados diretamente pelo presidente Vladimir Putin.
Moscou acusa-os de terem deixado passar conteúdo de apologia às drogas, ou ao suicídio, de não retirarem publicações convocando manifestações a favor da oposição, ou de não armazenarem na Rússia os dados de seus usuários russos.
Esta ofensiva de Moscou foi acentuada com a aproximação das eleições legislativas marcadas para 17 a 19 de setembro. A disputa se dá sem a participação de Navalny, na prisão desde janeiro deste ano, e de seus aliados, excluídos da votação, ou forçados ao exílio - especialmente depois que seu movimento foi declarado "extremista" por parte do governo.
Ainda assim, o grupo promove uma estratégia de "voto inteligente", convocando os russos de cada distrito a votarem no candidato, seja qual for seu partido, em melhor posição para derrotar o que está no poder.
Este método tem tido algum sucesso nas eleições locais desde 2019, sobretudo, em Moscou.
"Interferência eleitoral"
As autoridades responderam, bloqueando o acesso ao site que organiza este "voto inteligente", e exigiram que Google e Apple retirassem o aplicativo correspondente de suas lojas. Os dois gigantes parecem não ter atendido a estes pedidos.
Diante dessa recusa, Moscou acusou Google e Apple, na sexta-feira (10/9), de "interferência eleitoral" e ameaçou ambas as empresas americanas com a abertura de um processo criminal contra elas.
Uma fonte do Ministério russo das Relações Exteriores disse à AFP, na segunda-feira (13/9), que o "voto inteligente" de Navalny está ligado aos "serviços secretos americanos". A Chancelaria alega que o desenvolvedor russo do aplicativo também trabalha para uma empresa aeroespacial, cujos executivos são ex-funcionários de alto escalão do Pentágono.
Em meio à estagnação econômica e aos escândalos de corrupção, o partido do presidente Vladimir Putin, Rússia Unida, sofre com a baixa popularidade. De acordo com o instituto de pesquisas próximo às autoridades Vtsiom, a sigla tem apenas 27,3% de opiniões favoráveis.
Deve, no entanto, vencer as eleições legislativas, em particular porque as vozes críticas ao poder, que poderiam se beneficiar desse descontentamento, foram excluídas da disputa.
Além disso, as autoridades russas aumentaram seu controle sobre a Internet, o último espaço onde as vozes críticas ainda podiam se expressar de forma relativamente livre no país.
Recentemente, Moscou bloqueou vários VPNs muito usados para contornar a censura aos sites da oposição.
As autoridades também estão desenvolvendo um polêmico sistema de "Internet soberana" que acabará por isolar o segmento russo da rede mundial de computadores, separando-o dos principais servidores globais.
As autoridades russas negam querer construir uma rede nacional sob controle, como é o caso da China, mas é isso que as ONGs e opositores temem.
No final de janeiro, o presidente Putin estimou que os gigantes da Internet estavam, "de fato, em competição com os Estados", e denunciou suas "tentativas de controlar brutalmente a sociedade".