Afeganistão

Esforço humanitário

ONU realiza, hoje, conferência em que busca arrecadar US$ 600 milhões para amenizar a crise intensificada no país após o retorno do Talibã ao poder. Novo regime confirma que mulheres poderão frequentar as universidades, mas em turmas sem homens

As Nações Unidas realizam, hoje, uma conferência de ajuda humanitária para o Afeganistão, cujo comando voltou a ser assumido pelo Talibã duas décadas depois de o grupo ser expulso por tropas lideradas pelos Estados Unidos. O objetivo da ONU é arrecadar mais de US$ 600 milhões, a serem usados para amenizar a situação precária da população. Antes mesmo da retomada dos extremistas, metade do país, cerca de 18 milhões de pessoas, já dependia de auxílio externo. A estimativa é de que esse número aumente significativamente devido à seca, à escassez de dinheiro e alimentos e à retomada da tensão.

Em um comunicado oficial sobre o evento, a ONU destaca que a reunião “abordará as necessidades agudas do país e destacará o apoio financeiro urgente e as ações exigidas pelos parceiros internacionais para apoiar o povo afegão em tempos de necessidade”. A conferência, marcada para a tarde, contará com a presença de altos funcionários da entidade, incluindo o secretário-geral, António Guterres, além do chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Peter Maurer, e dezenas de representantes de governos, como o ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas.

A instituição internacional frisa que o Afeganistão enfrenta uma situação extremamente terrível, uma seca severa, com previsões de condições ainda mais adversas no inverno, além da pandemia da covid-19. “Mais de 550 mil pessoas foram deslocadas no país desde janeiro de 2021. Um em cada três afegãos está passando por crise ou nível de emergência de insegurança alimentar, e mais da metade das crianças menores de 5 anos está à beira da desnutrição aguda”, justificam as autoridades.

Cerca de 30% dos US$ 600 milhões solicitados serão usados no Programa Mundial de Alimentos (PMA), que trabalha com um cenário preocupante — um estudo feito em agosto e setembro mostrou que 93% dos 1.600 afegãos pesquisados não consumiam alimentos suficientes ,principalmente por falta de dinheiro. “Agora, é uma corrida contra o tempo e a neve para entregar assistência vital ao povo afegão que mais precisa”, declarou o vice-diretor regional do PMA, Anthea Webb. “Estamos, literalmente, implorando e pedindo empréstimos para evitar que os estoques de alimentos acabem”, completou.

Mulheres
Autoridades também seguem atentas a violações dos direitos humanos por parte do Talibã. A situação das mulheres no novo regime é um dos temas mais delicados. Ontem, o ministro do Ensino Superior confirmou que permitirá que elas estudem em universidades, desde que o façam separadamente dos homens. “Decidimos separar (homens e mulheres), porque as classes mistas são contrárias aos princípios do Islã e às nossas tradições”, justificou Abdul Baqui Haqqan.

O Ocidente acusa o regime talibã de querer negligenciar a educação. O ministro, por sua vez, diz que o grupo aposta nela para mudar o país. “A partir de agora, a responsabilidade pela reconstrução do país cabe às universidades. E estamos esperançosos, porque o número de universidades aumentou consideravelmente em comparação com a época do primeiro regime talibã (1996-2001)”, justificou. “Isso nos deixa otimistas para o futuro, para construir um Afeganistão próspero e autônomo (...) Devemos fazer bom uso dessas universidades”, acrescentou.

Na semana passada, o novo governo informou que permitiria que as mulheres estudassem em universidades sob condições estritas: usando véu completo e em aulas separadas dos homens ou divididas por uma cortina quando houvesse poucas meninas. O anúncio preocupa algumas escolas, que afirmam não ter meios materiais e financeiros para se adequar à separação por sexo e que isso pode estimular os alunos a deixarem o país para estudar no exterior. Segundo Alison Davidian, representante no Afeganistão da entidade ONU Mulheres, “todos os dias, eles recebem relatórios mostrando retrocessos” nas instituições de ensino.