O papa Francisco se reuniu, na manhã deste domingo (12/9), em Budapeste, com o líder soberanista Viktor Orban, a portas fechadas, antes de presidir a missa de encerramento de um grande congresso religioso internacional.
Pouco depois de sua chegada, o líder de 1,3 bilhão de católicos se encontrou com o primeiro-ministro húngaro, de acordo com imagens divulgadas na conta de Viktor Orban no Facebook, na qual aparecem apertando as mãos. O presidente húngaro, Janos Ader, e dois altos funcionários da Cúria Romana também participaram da reunião.
"Pedi ao papa Francisco que não deixe os cristãos húngaros perecerem", postou Orban em sua conta no Facebook. O Vaticano, por sua vez, disse em um comunicado que o encontro foi "cordial".
"Entre os vários temas discutidos, está o papel da Igreja no país, o compromisso com a proteção do meio ambiente, a proteção e promoção da família", afirma o comunicado.
Já em seu discurso final por ocasião da oração dominical do Ângelus, o papa prestou homenagem a uma nação "apegada a suas raízes", apelando, porém, a ser "aberta" a todos, numa alusão velada à política migratória de Orban. "Meu desejo é que vocês sejam assim: ancorados e abertos, enraizados e respeitosos", intimou.
E é que Francisco tem pedido incessantemente aos governos que recebam refugiados que fogem da pobreza, seja qual for sua religião. Uma reclamação incessante que gerou mal-entendidos, mesmo por parte dos fiéis católicos.
Ameaça do antissemitismo
O papa viajou a Budapeste atendendo a um convite do Congresso Eucarístico Internacional, seguindo os passos de João Paulo II, que participou desse evento em 1985, em Nairóbi (Quênia).
Depois de sua breve visita à capital húngara, o pontífice visitará a vizinha Eslováquia, onde fará uma verdadeira visita de Estado de três dias.
Em seu primeiro discurso durante sua visita, a líderes cristãos e judeus, o papa Francisco alertou sobre a "ameaça do antissemitismo que ainda paira na Europa e em outros lugares".
"É um pavio que deve ser extinto", afirmou. "A melhor maneira de desativá-lo é trabalhar positivamente juntos, é promover a fraternidade", acrescentou durante sua visita à capital da Hungria, país que abriga a maior comunidade judaica da Europa Central, estimada em cerca de 100.000 membros.
A 34ª viagem internacional do papa Francisco, de 84 anos, ocorre cerca de dois meses depois de ele ter sido submetido a uma cirurgia de cólon, uma operação que exigiu anestesia geral e dez dias de convalescença no hospital.
"Lamento se falei sentado. Não tenho 15 anos", declarou o papa. Desde as primeiras horas da manhã, a imensa Praça dos Heróis de Budapeste encheu-se de grupos de peregrinos vindos de todo o país para assistir à missa do pontífice sob um céu azul radiante.
"Não estamos aqui por política, mas para ver e ouvir o papa, o chefe da Igreja. Estamos impacientes para vê-lo, é maravilhoso que ele esteja em Budapeste!", comentou Eva Mandoki, de 82 anos, que mora a 100 km da capital.
A expectativa era de que cerca de 75 mil pessoas no evento, transmitido em telões. Na cidade, reduto da oposição a Orban, foram colocados cartazes de boas-vindas ao papa Francisco e de seus apelos à solidariedade e tolerância com as minorias.
"Todos somos migrantes!"
Jorge Bergoglio, cujos antepassados italianos migraram para a Argentina, não para de lembrar à velha Europa seu passado, construído por ondas de recém-chegados.
Embora nunca tenha feito alusão direta a nenhum político em particular, ele criticou abertamente o "soberanismo" que, segundo ele, dedica "discursos semelhantes aos de Hitler em 1934" aos estrangeiros.
Aos que discordam, ele responde que ajudar os excluídos é eminentemente cristão. Em abril de 2016, durante uma visita à ilha grega de Lesbos, o papa lançou: "Somos todos migrantes!" e convidou três famílias muçulmanas sírias, cujas casas foram bombardeadas, a embarcar em seu avião.
Naquela mesma época, o líder húngaro ordenou a construção de uma cerca na fronteira sul de seu país para impedir a chegada de "muçulmanos".
Uma política muito restritiva sobre o direito de asilo que gerou atrito em Bruxelas, enquanto Orban afirma que o que quer é preservar o legado cristão da Europa.