O Líbano anunciou, nesta sexta-feira (10), um novo governo após 13 meses de intermináveis negociações políticas que agravaram uma crise econômica sem precedentes que mergulhou milhões de pessoas na pobreza.
O chefe de Estado, Michel Aoun, e o primeiro-ministro designado, Najib Mikati, "assinaram o decreto para formar o novo governo na presença do chefe do Parlamento Nabih Berri", informou a Presidência no Twitter.
A nova equipe inclui personalidades apolíticas, algumas delas com boa reputação, como Firas Abiad, diretor do hospital estatal Rafic Hariri, que coordena a luta contar o coronavírus.
A primeira reunião do governo de 24 ministros está prevista para segunda-feira, anunciou o secretário-geral do Conselho de Ministros, Mahmud Makiye.
O país está sem um novo governo desde a renúncia do gabinete de Hasan Diab, poucos dias após a explosão no porto de Beirute em 4 de agosto de 2020, que provocou mais de 200 mortes e devastou bairros inteiros da capital.
Desde então, a crise econômica sem precedentes no país se tornou ainda mais grave. O Banco Mundial a considera uma das piores do mundo desde 1850.
Com uma inflação galopante e demissões em larga escala, 78% da população libanesa vive abaixo da linha da pobreza, segundo a ONU.
Uma descida ao inferno: perda do valor da moeda local, restrições bancárias sem precedentes, eliminação gradual dos subsídios e escassez de combustível e medicamentos. Além disso, o país passa parte do tempo no escuro há meses, com grandes apagões.
Os geradores de bairro assumem o fornecimento, mas racionam a corrente nas residências, empresas e instituições por falta de combustível, muito caro e escasso em um país com escassez de divisas e que suprime subsídios a diversos produtos básicos.
Desafios
O próximo governo terá de enfrentar vários desafios, como chegar a um acordo com o Fundo Monetário Internacional, com o qual as negociações estão interrompidas desde julho de 2020.
Para a comunidade internacional, é uma etapa essencial para tirar o Líbano da crise e desbloquear ajudas.
Há mais de um ano, a comunidade internacional condiciona a ajuda à formação de um governo capaz de combater a corrupção e realizar indispensáveis reformas profundas.
Desde a explosão, ela se limitou a fornecer ajuda humanitária de emergência, ignorando as instituições oficiais.
No final de julho, Aoun encarregou Najib Mikati, ex-primeiro-ministro e o homem mais rico do país, da formação de um novo governo após o fracasso de seus dois antecessores.
O ex-primeiro-ministro Saad Hariri desistiu em meados de julho, após nove meses de negociações difíceis. Depois de renunciar, ele acusou o Irã, principal apoiador do movimento Hezbollah, de "dificultar" a criação de um governo reformista.
Antes dele, o embaixador Mustafa Adib já havia tentado formar um Executivo. Em vão.
Apesar das ameaças de sanções da União Europeia (UE) e advertências e acusações de "obstrução organizada" nos últimos meses, os líderes políticos libaneses ainda não deram o braço a torcer.
No início de agosto, o presidente francês Emmanuel Macron, que acompanha de perto a situação no Líbano, acusou a classe dominante, odiada pelo povo e que sobreviveu ao levante popular de 2019, de defender seus interesses pessoais em detrimento dos coletivos.