A agência reguladora de rádio e TV na China afirmou que vai banir a estética "afeminada" em programas de entretenimento, alegando que "influências vulgares" devem ser evitadas no país.
Trata-se de mais uma iniciativa em fechar o cerco ao que a Agência Nacional de Rádio e TV (NRTA) descreve como "conteúdo insalubre" na programação chinesa.
A entidade, que tem status de ministério, declarou que critérios de conduta moral e política devem ser incluídos na seleção de pessoas a figurarem em programas, e alguns programas de competição de talentos foram vetados.
Além disso, as autoridades midiáticas locais prometeram promover o que definiram como imagens mais masculinas de homens, criticando celebridades masculinas que usam muita maquiagem.
Em contrapartida, programas que promovam uma cultura tradicional, revolucionária ou "de socialismo avançado", ou que estimulem uma atmosfera patriótica, serão estimulados.
Um artigo de opinião publicado no final de agosto no jornal estatal Guangming Daily em 27 de agosto alegava que algumas celebridades "afeminadas" são imorais e podem prejudicar os valores dos adolescentes chineses.
No entanto, na rede social Weibo, bastante popular na China, vários usuários criticaram a censura, afirmando se tratar de discriminação e pedindo respeito à diversidade.
A homossexualidade não é ilegal na China, mas autoridades fazem, em geral, censura rígida do tema - referências gays foram tiradas do filme Bohemian Rhapsody, sobre o cantor Freddie Mercury (embora referências similares tenham sido mantidas no filme Green Book - O Guia). Cenas de sexo e nudez também foram editadas em séries populares, como Game of Thrones.
Em 2019, a China chegou a borrar as orelhas de jovens pop stars em suas aparições na TV e na internet, para esconder seus brincos ou piercings. Tatuagens e rabos de cavalo em homens também já foram borrados em algumas ocasiões.
Indústria lucrativa
O cerco é parte de um esforço do Partido Comunista chinês em reforçar o controle sobre a crescente e lucrativa indústria de entretenimento da China - que, em 2021, deve faturar em torno de US$ 358 bilhões, segundo um relatório recente da consultoria PwC.
Isso inclui desde aumentar o controle sobre conteúdos, desde games à música e ao cinema - censurando o que supostamente viole os "valores socialistas" -, até combater os altos salários e a evasão fiscal nessa indústria.
O presidente chinês, Xi Jinping, já reforçou seu compromisso com o que chamou de "prosperidade comum" e, ante sua promessa de redistribuição de renda, alguns ícones do entretenimento e da tecnologia com altos salários têm recebido atenção do público e das autoridades. Na semana passada, a atriz chinesa Zheng Shuang foi multada em US$ 46 milhões por sonegação de impostos.
Rana Mitter, professor de história e política da China moderna na Universidade de Oxford, explica que a ideia de "prosperidade comum" foi uma forma de "criticar a imensa desigualdade que marca atualmente a sociedade" do país - 10% da população concentrou 41% do PIB chinês em 2015, segundo estimativas da London School of Economics.
"Figuras proeminentes com alta renda são um alvo claro, porque criticá-los repercute nas redes sociais", ele explica. "Depois de começar (esse cerco) com bilionários do setor de tecnologia, o Partido está deixando claro que estrelas proeminentes do showbiz são agora outro alvo."
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