Vietnã

Hanói transformada em prisão a céu aberto para lutar contra a covid

Algo nunca visto, nem mesmo entre 1945 e 1975, durante as horas sombrias das guerras contra a França e os Estados Unidos.

Barreiras de metal e bambu, arame farpado e engradados de cerveja empilhados nas ruas de Hanói para evitar que os moradores circulem e espalhem o coronavírus fazem a capital vietnamita parecer uma prisão a céu aberto.

"Parece um centro de detenção", exclama Ho Thi Anh, de 72 anos, cujo bairro, cercado por barricadas improvisadas, assumiu a aparência de um campo entrincheirado.

"Todas as estradas que levam à minha casa estão bloqueadas. Os familiares depositam alimentos na frente das barreiras a cada três dias", explicou à AFP.

Algo nunca visto, nem mesmo entre 1945 e 1975, durante as horas sombrias das guerras contra a França e os Estados Unidos.

Os oito milhões de habitantes receberam ordens de confinamento desde o final de julho, mas as restrições de movimento estão cada vez mais rígidas, enquanto a onda de coronavírus, que ainda não afetou a capital, faz estragos no sul, especialmente em Ho Chi Minh.

Hanói está agora dividida em uma infinidade de setores entre os quais se tornou muito difícil circular. O objetivo das barricadas é isolar uma área assim que um caso de covid-19 é detectado e proteger os bairros livres da epidemia.

"Nosso setor está azul, livre de vírus. Fico vigiando para garantir que nenhum estranho entre. Não queremos coronavírus em nossa casa", diz Nguyen Ha Van, um voluntário que guarda o beco estreito que leva a sua casa.

Castigado pela lentidão de sua campanha de vacinação, o Vietnã, aclamado em 2020 como um país exemplar no combate à epidemia com sua política rígida de quarentena e monitoramento de infectados, sofre um grave revés.

As autoridades registraram mais de 10.000 mortes desde o final de julho, em comparação com apenas algumas dezenas no ano passado.

Soldados e reservistas mobilizados

Ho Chi Minh, motor econômico do país e atualmente o epicentro da pandemia, foi transformada em uma cidade sitiada.

O exército enviou milhares de soldados e reservistas para fazer cumprir as restrições e distribuir sacos de comida para os residentes em suas casas.

O sistema de saúde da megalópole de nove milhões de pessoas está sob pressão.

"Meu turno é entre 7h00 e meia-noite, às vezes durante toda a noite", disse à AFP em agosto Truong Van Anh, médico em um hospital improvisado com mais de 2.000 leitos.

Cerca de 17.000 profissionais da saúde foram enviados como reforços de outras províncias.

Mais da metade dos 98 milhões de vietnamitas estão sob restrições de deslocamento, mas poucos se atrevem a criticar abertamente a política de partido único por medo de retaliação.

O país conduz sua campanha de vacinação muito lentamente. Apenas 17% da população recebeu uma dose da vacina contra a covid-19 e 2,6% foram totalmente vacinados.

O regime comunista teve dificuldade em arranjar dinheiro e pediu donativos à população.

Os Estados Unidos e a China ofereceram milhões de doses e foram assinados acordos comerciais com os laboratórios americanos Pfizer e Moderna, o sueco-britânico AstraZeneca e o chinês Sinovac.

A meta é injetar pelo menos uma dose da vacina em 70% da população até abril de 2022.