Suíça

Suíça se prepara para votar se aprova o casamento igualitário

De acordo com as pesquisas, a iniciativa conta com amplo apoio da população, em um país que é um dos poucos da Europa Ocidental que ainda não deu esse passo

Agência France-Presse
postado em 23/09/2021 12:31 / atualizado em 23/09/2021 12:31
 (crédito: Fabrice COFFRINI / AFP)
(crédito: Fabrice COFFRINI / AFP)

Thierry Delessert e seu namorado procuravam um apartamento na Suíça há 30 anos e sempre eram questionados se eram gays ou primos. Se respondessem gays, perdiam a chance de encontrar moradia.

Já se foi o tempo em que a polícia fichava homossexuais, e no próximo domingo (26) os suíços vão votar em um referendo se aprovam ou não o casamento igualitário.

De acordo com as pesquisas, a iniciativa conta com amplo apoio da população, em um país que é um dos poucos da Europa Ocidental que ainda não deu esse passo.

Este é "um grande avanço" para a Suíça, disse à AFP Thierry Delessert, um pesquisador de 56 anos da Universidade de Lausanne, especializado em história da homossexualidade na Suíça.

O país descriminalizou a homossexualidade em 1942, mas vários órgãos policiais tinham - em alguns casos até o início dos anos 1990 - registros de homossexuais.

O pesquisador explicou que os arquivos eram mantidos em nome do "controle do desvio e da moralidade".

"Se um suposto homossexual fosse julgado por estupro, a homossexualidade era uma prova adicional de sua imoralidade. Se um homossexual pedia um apartamento, ele não o recebia. Se um homossexual queria um emprego no funcionalismo pública, ele não conseguia", detalhou Delessert.

Os registros, no entanto, nunca foram divulgados e as pessoas que estavam inscritas neles não sabiam disso.

"Apenas Zurique e Basel, em 1979 e 1980, anunciaram oficialmente a exclusão de tais registros. Como historiador, é frustrante, porque os registros desapareceram misteriosamente", lamentou o especialista.

No entanto, graças às suas pesquisas, ele conseguiu encontrar o depoimento de um comissário que mencionou que, a cada ano, em Zurique, cerca de 200 homossexuais eram incluídos nos registros.

Ele também encontrou notas manuscritas em documentos policiais em que os policiais pediam a criação de "arquivos" de homossexuais detidos.

Os documentos eram para uso interno da polícia e foram destruídos, disse o serviço de arquivos de Zurique à AFP.

Em abril de 1990, a imprensa revelou, graças a um denunciante, que esse tipo de registro ainda existia em Berna, o que levou as autoridades a abandonarem a prática.

"Após investigações internas, não conseguimos encontrar informações sobre esse registro que aparentemente existiu. Em um nível ético, dificilmente poderíamos entender tal registro hoje", disse a polícia cantonal de Berna à AFP.

No entanto, Delessert saúda a recente mudança política em seu país, que em 2020 adotou um dispositivo contra a homofobia e, no final de 2021, um texto no Parlamento a favor do casamento igualitário.

Mas seus opositores, conservadores, apresentaram o referendo para tentar bloquear a iniciativa.

O texto prevê que casais do mesmo sexo podem adotar uma criança juntos e que as mulheres podem recorrer à inseminação artificial.

Os opositores da iniciativa basearam sua campanha neste último ponto, lamentando a "mercantilização" dos filhos e considerando que "o casamento para todos mata o pai".

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