A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, advertiu nesta quinta-feira (23) sobre o risco de uma escalada na guerra civil em Mianmar, onde a oposição à junta militar convocou a população a pegar em armas.
"Diante da repressão massiva dos direitos fundamentais, um movimento de resistência armada está crescendo", declarou Bachelet perante o Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.
Ela alertou que, recentemente, Duwa Lashi, presidente interino do Governo de Unidade Nacional - formado por ex-deputados contrários ao golpe e agora na clandestinidade - "convocou um levante armado contra os militares, em todo país".
Depois de mencionar o aumento dos confrontos armados entre opositores e militares, que tomaram o poder em fevereiro deste ano, Bachelet considerou que "estas tendências preocupantes sugerem que uma guerra civil de maior envergadura é possível".
"Reitero meu apelo a todos os atores armados para que respeitem os direitos humanos e garantam a proteção dos civis e de suas infraestruturas", acrescentou.
"Devem cessar imediatamente os ataques aéreos e de artilharia em zonas residenciais e qualquer outra forma de operação militar que esvazie centros de saúde, locais de culto, escolas, ou outras estruturas protegidas", exigiu a ex-presidente do Chile.
De acordo com Bachelet, "1.100 pessoas foram assassinadas pelas forças de segurança desde o golpe".
Estima-se que cerca de 8.000 pessoas, incluindo crianças, tenham sido presas desde 1º de fevereiro. Deste total, 4.700 continuam detidas.
"A maioria delas está presa sem qualquer tipo de procedimento legal e sem acesso a advogado, ou mesmo sem a possibilidade de se comunicar com suas famílias", denunciou.
A alta comissária disse ainda ter informações confiáveis sobre maus-tratos e tortura cometidos durante os interrogatórios e sobre o fato de que "120 pessoas morreram nas 24 horas que se seguiram à sua detenção".
Em 1º de fevereiro, o Exército birmanês derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi, partido claramente vencedor da disputa eleitoral. Com isso, pôs-se fim a um breve intervalo democrático de dez anos no país. Desde então, os militares vêm fazendo uma repressão sangrenta contra seus opositores.
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