Afeganistão

Mulheres afegãs indignadas por restrições impostas pelo Talibã

As mulheres afegãs, embora ainda marginalizadas, fizeram progressos notáveis nos últimos 20 anos, tornando-se juízas, pilotos, deputadas ou policiais

Agência France-Presse
postado em 20/09/2021 09:16 / atualizado em 20/09/2021 09:16
 (crédito: BULENT KILIC / AFP)
(crédito: BULENT KILIC / AFP)

As restrições do Talibã ao trabalho das mulheres no Afeganistão entraram em vigor nesta segunda-feira (20), gerando indignação pela perda de direitos para professoras e alunas do ensino médio.

Apesar de ter prometido uma versão mais branda de seu regime brutal e repressivo de 1996 a 2001, os fundamentalistas islâmicos estão aumentando seu controle sobre a liberdade das mulheres, um mês depois de assumir o poder no Afeganistão.

"Poderia estar morta", diz uma mulher, expulsa de um cargo importante no ministério das Relações Exteriores. "Eu estava encarregada de um departamento inteiro e tinha muitas mulheres trabalhando comigo (...) Agora todas perdemos o emprego", conta à AFP, pedindo anonimato por temer represálias.

O prefeito em exercício de Cabul declarou que os cargos municipais ocupados por mulheres agora terão que ser assumidos por homens.

Tudo isso no momento em que o ministério da Educação ordenou que professores e alunos do sexo masculino voltassem às escolas de ensino médio neste final de semana, mas sem falar nas milhões de professoras e alunas no país.

O Talibã fechou na sexta-feira o antigo ministério da Mulher, implementado pelo governo anterior, que será substituído por outro, já famoso durante o passado regime talibã, com o objetivo de reforçar a doutrina religiosa.

Muitas mulheres afegãs temem nunca mais trabalhar.

Governo sem mulheres

O novo governo do Talibã anunciou há duas semanas que não teria mulheres no gabinete.

As mulheres afegãs, embora ainda marginalizadas, fizeram progressos notáveis nos últimos 20 anos, tornando-se juízas, pilotos, deputadas ou policiais, embora a situação tenha ocorrido principalmente nas grandes cidades.

Centenas de milhares delas entraram no mercado de trabalho, muitas vezes forçadas como viúvas ou como apoio a maridos deficientes no contexto de duas décadas de conflito armado.

Mas desde seu retorno ao poder em 15 de agosto, o Talibã parece não querer preservar esses direitos.

Quando questionados, os líderes talibãs dizem que as mulheres são sugeridas a ficar em casa para sua própria segurança, mas que terão permissão para trabalhar assim que as regras de separação estiverem em vigor.

"E quando isso vai acontecer?", questionou uma professora nesta segunda. "Isso aconteceu da última vez. Disseram que poderíamos voltar a trabalhar, mas nunca aconteceu", acrescenta.

Durante o último regime talibã, as mulheres foram amplamente excluídas da vida pública e não eram autorizadas a deixar suas casas, exceto na companhia de um parente do sexo masculino.

Na sexta-feira, em Cabul, o ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício foi instalado no mesmo prédio que abrigava o antigo ministério da Mulher.

E no domingo, algumas mulheres protestaram brevemente do lado de fora do prédio, mas se dispersou quando os oficiais do Talibã apareceram.

Nenhum responsável do novo regime concordou em comentar esta situação.

Em Herat, uma autoridade do setor educacional insistiu que o retorno de alunas e professoras às escolas é uma questão de tempo e não de política.

"Não está claro quando isso vai acontecer: amanhã, na próxima semana, no próximo mês, não sabemos", disse Shahabudin Saqib à AFP.

"Não depende de mim, porque tivemos uma grande revolução no Afeganistão", acrescentou.

Os Estados Unidos expressaram "profunda preocupação" com o futuro das estudantes no Afeganistão.

"É essencial que todas as meninas, mesmo as mais velhas, possam retomar seus estudos sem mais atrasos", disse a agência da ONU para crianças, Unicef.

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