A adesão dos Estados Unidos à aliança Aukus (com Austrália e Reino Unido), para a produção de submarinos nucleares com tecnologia norte-americana, enfureceu a França, um dos principais aliados históricos de Washington. Os franceses negociavam uma venda de submarinos convencionais para a Austrália, a principal beneficiada pela Aukus. O negócio era estimado em US$ 36,5 bilhões (cerca de R$ 191,9 bilhões). “Foi uma punhalada pelas costas. Nós estabelecemos uma relação de confiança com a Austrália, e essa confiança foi traída”, declarou o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian. “Estou muito irritado e amargurado. Isso não é algo que aliados fazem”, acrescentou o assessor do presidente Emmanuel Macron.
Os Estados Unidos trataram de pôr panos quentes a uma crise com um dos maiores parceiros na Europa. “Quero enfatizar que não existe uma divisão regional que separe os interesses de nossos parceiros do Atlântico e do Pacífico. A França, em particular, é um parceiro vital nisso”, garantiu Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano. A China, por sua vez, considerou “extremamente irresponsável” a venda dos submarinos nucleares dos EUA à Austrália. Pequim advertiu que o negócio “compromete, de maneira grave, a paz e a estabilidade regionais”.
Especialista em estratégia dos Estados Unidos e da Austrália para o Indo-Pacífico e diretor do Instituto de Defesa e Segurança da Universidade da Austrália Ocidental, Peter J. Dean afirmou ao Correio que a França está “compreensivelmente chateada com a decisão” dos Estados Unidos. “Eles perderam um contrato lucrativo e isso também foi visto como um elemento-chave da segurança do Indo-Pacífico. O interessante na reação francesa é que o governo Macron parece tão desanimado por ter sido deixado de fora do pacto Aukus quanto por perder o contrato do submarino. No fim, o negócio do submarino francês foi cancelado porque o programa estava repleto de estouros de custos e atrasos.”
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Relação
De acordo com Dean, os EUA tinham a prerrogativa de compartilhar material sensível com a Austrália e o Reino Unido sobre submarinos. “A decisão de Washington em nada prejudica a relação com Paris, com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ou com a União Europeia (UE), França, Otan e UE seguem como parceiros-chave em defesa da ordem internacional.”
O estudioso compreende a manobra norte-americana como uma resposta ao autoritarismo da China. “Em parte, trata-se de obter a melhor capacidade submarina para a Austrália, considerando-se o custo envolvido. Isso não provocará uma corrida armamentista. É preciso lembrar que a China, nas últimas duas décadas, impulsionou a maior expansão militar da história moderna. No ano passado, os chineses lançaram 18 navios de guerra contra cinco pelos norte-americanos. A China conta com 74 submarinos.”
Aliança audaciosa
A Aukus é uma aliança trilateral estratégica entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos. Foi pensada para viabilizar a construção de uma classe de submarinos de propulsão nuclear e para impulsionar a cooperação na região do Indo-Pacífico, onde a China é vista como ameaça crescente. Além da frota de submarinos, a Aukus combinará “cibernética, aliança artificial, tecnologias quânticas e capacidades submarinas.