A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), cujo diretor-geral Rafael Grossi está em Teerã, anunciou, neste domingo (12/09), que chegou a um acordo com o Irã a respeito dos equipamentos de monitoramento de seu programa nuclear, poucos dias depois de denunciar a falta de cooperação das autoridades iranianas.
Grossi viajou à capital iraniana para tentar apaziguar as tensões entre Ocidente e Irã.
O chefe da agência da ONU se reuniu com o diretor da organização de energia atômica local e vice-presidente do Irã, Mohamad Eslami.
"Os inspetores da AIEA têm autorização para intervir, a fim de manter o equipamento e substituir os discos rígidos" das câmeras instaladas nas infraestruturas iranianas, disse o órgão da ONU em um comunicado conjunto com a Organização Iraniana de Energia Atômica.
A agência, porém, continuará sem acesso aos dados das câmeras, enquanto, em fevereiro, Teerã havia se comprometido a fornecê-los em longo prazo, se as negociações para salvar o acordo internacional de 2015 forem bem-sucedidas.
Em sua segunda visita ao Irã este ano, Grossi garantiu com este novo compromisso a continuidade da vigilância e controle do programa nuclear iraniano, e também oferece um prazo maior às grandes potências que tentam reanimar o acordo alcançado em Viena em 2015.
"Vigilância obstruída"
O Irã restringiu o acesso dos inspetores da AIEA a algumas de suas instalações nucleares desde fevereiro passado e se recusou a fornecer imagens em tempo real de câmeras e dados de outras ferramentas de vigilância que a agência da ONU havia instalado lá.
Um acordo que garantiu algum grau de supervisão foi negociado, mas expirou em junho, e a AIEA estava preocupada em perder dados se a capacidade de registro dessas ferramentas fosse saturada.
"Desde fevereiro de 2021, as atividades de verificação e vigilância foram seriamente prejudicadas pela decisão do Irã" de restringir as inspeções, denunciou a AIEA na terça-feira em um relatório consultado pela AFP.
Sob este novo acordo, a AIEA ainda não terá acesso aos dados da câmera, mas o Irã se comprometeu em fevereiro a fornecê-los se as negociações para salvar o acordo de Viena fossem bem-sucedidas.
Citado pela agência oficial Irna, Eslami saudou "negociações boas e construtivas com o Sr. Grossi".
"Ficou decidido que os especialistas da Agência virão ao Irã para substituir os cartões de memória das câmeras técnicas de vigilância", apontou. "Eles permanecerão selados no Irã e novos cartões serão instalados".
A Rússia elogiou a reaproximação deste domingo entre a AIEA e o Irã.
"Nos parabenizamos pelos resultados da visita de Grossi a Teerã. Pedimos que as negociações em Viena sejam retomadas o mais rápido possível", declarou o embaixador russo na capital austríaca, Mikhail Ulyanov, no Twitter.
Transparência
Grossi retornará a Teerã "em um futuro próximo para consultas de alto nível", segundo informa o comunicado da agência, que insiste na "cooperação e confiança mútuas das duas partes".
A visita ocorre antes de uma reunião, a ser realizada a partir de segunda-feira (13), do Conselho de Governadores da Agência, da qual o Irã "decidiu participar" para "continuar nossas conversas", anunciou Eslami.
Este novo arranjo oferece um alívio às grandes potências, que estão tentando ressuscitar o acordo de Viena, colocado em apuros em 2018 pela decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de se retirar unilateralmente e restaurar as sanções americanas. Em resposta, o Irã se livrou da maioria de seus compromissos.
O acordo oferece a Teerã um alívio das sanções do Ocidente e da ONU em troca do compromisso de nunca se munir de armas atômicas e de reduzir drasticamente seu programa nuclear, sob estrito controle das Nações Unidas.
As negociações iniciadas em abril para tentar ressuscitar o acordo por meio da reintegração de Washington estão suspensas desde 20 de junho, dois dias após a vitória presidencial do ultraconservador Ebrahim Raïssi.
Após a publicação do relatório da AIEA, Raïssi garantiu na quarta-feira que seu país era "transparente".
"Claro, no caso de uma abordagem não construtiva da AIEA, não é razoável esperar uma resposta construtiva do Irã", disse ele, no entanto.
Por sua vez, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou após a publicação do relatório que os Estados Unidos estavam "perto" de abandonar seus esforços para reativar o acordo.
Já o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, contrário ao acordo, acusou o Irã na sexta-feira de continuar a "mentir para o mundo".
"Israel vê com extrema gravidade a imagem refletida no relatório (da AIEA), que prova que o Irã continua a mentir para o mundo e a promover um programa de desenvolvimento de armas nucleares, em violação de suas obrigações internacionais”, afirmou.
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