O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou nesta quarta-feira que os talibãs precisam "ganhar" sua legitimidade perante a comunidade internacional, depois que o grupo formou um governo no Afeganistão integrado por algumas pessoas que estão na lista de procurados por Washington.
O governo interino do Afeganistão "é integrado exclusivamente por membros dos talibãs e seus colaboradores próximos (...) Também nos preocupam as afiliações e os antecedentes de alguns desses indivíduos" que figuram nas listas de sanções da ONU, assinalou Blinken durante uma coletiva de imprensa na base norte-americana de Ramstein, na Alemanha.
"Entendemos que os talibãs o apresentem como um gabinete provisório. Vamos julgá-los mais tarde por suas ações", advertiu o responsável pela diplomacia norte-americana, que também frisou que "toda a legitimidade e todo o apoio deverão ser conquistados" perante a comunidade internacional.
Antes de comparecer à coletiva, Blinken e o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, lideraram uma conferência virtual em nível ministerial, que reuniu representantes de 20 países para abordar a crise afegã.
"Discutimos a maneira pela qual vamos fazer com que os talibãs respeitem seus compromissos e obrigações: permitir que as pessoas viajem livremente para respeitar seus direitos fundamentais, inclusive as mulheres e as minorias; zelar para que o Afeganistão não seja utilizado como base para ataques terroristas; não agir com represálias contra os que decidirem permanecer no Afeganistão", listou Blinken.
Heiko Maas, por sua vez, reiterou que é necessário oferecer "ajuda humanitária" o mais rápido possível para a população afegã e pediu que os talibãs permitam o acesso da ONU ao país.
"A reabertura prevista do aeroporto de Cabul seria um passo nessa direção", acrescentou o ministro alemão.
Já Blinken garantiu que os Estados Unidos estão fazendo "o possível" para retomar os voos de evacuação do Afeganistão e acusou os talibãs de impedirem os mesmos com o pretexto de que alguns passageiros não estavam com a documentação em ordem.
"Paquistão esteve presente"
Um alto funcionário do Departamento de Estado argumentou que todos os países compartilhavam amplamente a posição a ser tomada em relação ao novo governo do Talibã, incluindo o Paquistão, que é acusado de ter apoiado os insurgentes.
"O Paquistão esteve presente" na reunião, declarou o alto funcionário à imprensa no avião de Blinken. "Eles falaram sobre seu papel único, seu ponto de vista e a ideia de que estão em uma posição em que precisam se comprometer até certo ponto", continuou.
Um Afeganistão estável e pacífico não pode ser alcançado sem um compromisso regional e internacional mais importante, e não menos importante. O Paquistão, como vizinho imediato, não pode se dar ao luxo de ignorar a situação", explicou o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi no Twitter.
À tarde, Blinken visitou a base militar, transformada desde o final de agosto em um gigantesco acampamento de refugiados que foram retirados do Afeganistão pelas forças aéreas dos Estados Unidos.
No galpão, onde parte dos 11.000 afegãos refugiados em Ramstein aguardam seus voos para os Estados Unidos, Blinken se agachou e mostrou fotos de seus próprios filhos para outras crianças, algumas delas filhos de afegãos que trabalharam para os EUA.
"Ansioso para receber vocês"
Blinken também visitou o lugar onde estão os menores afegãos que perderam seus pais.
"Me chamo Tony", se apresentou. "Muitos, muitos, muitos americanos estão ansiosos para receber vocês nos Estados Unidos", disse Blinken a esses jovens.
Os Estados Unidos retiraram 123.000 pessoas do Afeganistão, principalmente afegãos que temiam represálias dos talibãs.
No entanto, as autoridades americanas reconhecem que restam muitas outras que não conseguiram sair do país e afirmam que os talibãs garantiram que elas podem ir embora.
Em sua passagem pelo Catar na terça-feira, o chefe da diplomacia americana obteve dos talibãs um novo compromisso firme de que os afegãos que queiram abandonar o país poderão sair sem dificuldades.
Em Ramstein, Blinken afirmou que os Estados Unidos fazem atualmente "tudo o que está em suas mãos" para retomar os voos de retirada do Afeganistão e acusou os talibãs de impedi-los sob o pretexto de que alguns passageiros não tinham os documentos em ordem.
Insistindo na necessidade de fornecer "ajuda humanitária" rápida à população, Heiko Maas pediu aos talibãs para permitirem o acesso da ONU ao país.
Os Estados Unidos e seus sócios buscam oferecer uma frente unida. Na terça-feira, os talibãs apresentaram um governo interino que não possui nenhuma mulher ou algum ministro que não seja do Talibã, e vários de seus membros estão na lista de sanções da ONU.
O medo dos afegãos é ver novamente um governo semelhante ao que os talibãs impuseram entre 1996 e 2001, quando vários direitos - principalmente os das mulheres e minorias - foram destruídos.
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© Agence France-Presse
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