Iêmen

Crianças voltam às aulas no Iêmen destruído pela guerra e pela pandemia

Apesar do coronavírus e de uma guerra brutal, as crianças do Iêmen começam um novo ano escolar

Agence France-Presse
postado em 03/09/2021 16:38 / atualizado em 03/09/2021 16:40
 (crédito: Mohammed HUWAIS / AFP)
(crédito: Mohammed HUWAIS / AFP)

Dezenas de crianças se ajoelham em uma sala improvisada ao ar livre no Iêmen, onde um novo ano escolar começa apesar do coronavírus e de uma guerra brutal.

Os alunos de Taiz, a terceira maior cidade do empobrecido país árabe, ouvem e trabalham da melhor maneira que podem, apesar de sete anos de conflito que matou dezenas de milhares e obrigou milhões a deixar suas casas.

"Estudamos um dia no chão, outro dia no telhado e outros dias na rua", diz à AFP Laith Kamel, do sétimo ano.

"Há quatro anos, esperamos para ir para uma escola de verdade", conta.

Em todo o país há crianças que ou não têm aula ou, quando têm, carecem de elementos básicos, como carteiras ou banheiros.

Várias escolas foram destruídas no conflito entre as forças governamentais e os rebeldes houthis, enquanto outras foram convertidas em campos de refugiados ou instalações militares.

Antes mesmo da pandemia, já havia cerca de dois milhões de crianças sem aulas, de acordo com a ONU.

 

Abandono 

 

Para os matriculados na escola Al-Thulaya de Taiz, onde as mensalidades custam cerca de um dólar por aluno, as aulas são ministradas em um prédio inacabado.

As autoridades escolares afirmam que o governo, envolvido no conflito com os rebeldes, não pode fornecer instalações adequadas, então a mensalidade que cobram é usada para alugar um prédio sem janelas ou esgoto.

Os educadores estão cientes de que essas condições não são adequadas para menores e apontam que muitos deles abandonam as aulas.

"Há abandono porque não há serviços básicos, como assentos e banheiros", diz Abdulghani Mahyoub, diretor da escola Al-Thulaya, com 900 alunos.

"Ficamos ao ar livre, a maioria dos alunos estuda ao ar livre", admite.

Além disso, "as crianças ficam doentes o tempo todo" em classes superlotadas, aponta Asia Ahmed, uma professora.

Taiz, uma cidade de 600.000 habitantes sob controle do governo, mas assediada pelos rebeldes desde 2015, é uma das cidades mais problemáticas do Iêmen e foi repetidamente bombardeada.

Além disso, a pandemia do coronavírus tornou a vida ainda mais difícil para crianças e professores.

Uma terceira onda de infecções atingiu 30 milhões de habitantes no início do ano letivo, disseram as autoridades em agosto.

Mas as máscaras e o distanciamento social são luxos não disponíveis para a maioria no Iêmen, onde a guerra deixou milhões à beira da fome.

O Iêmen reportou quase 8.000 casos de covid-19, com mais de 1.470 mortes, mas a ONU afirma que poucos testes são feitos e que o número real pode ser muito maior.


 Professores sem salário 


De acordo com o Unicef, o surto de covid forçou o encerramento do ano escolar no início dos anos 2019-20 e 2020-21.

A epidemia afetou "a educação de quase 5,8 milhões de alunos do ensino fundamental e médio, incluindo 2,5 milhões de meninas", observou a agência da ONU.

Um contexto que mergulhou o Iêmen na pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU.

Grupos humanitários dizem que o conflito matou dezenas de milhares. Cerca de 3,3 milhões de pessoas foram deslocadas e mais de 80% da população precisa de assistência, de acordo com as Nações Unidas.

"Para piorar as coisas, dois terços dos educadores iemenitas (de um total de 170.000) não são pagos regularmente há mais de quatro anos, informou o Unicef.

"Isso deixa mais quatro milhões de crianças em risco de ter sua educação interrompida ou abandonada porque os professores pararam de lecionar por falta de pagamento", acrescentou.


 


© Agence France-Presse

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação