Poucas horas depois que duas explosões na capital afegã, Cabul, mataram ao menos 90 pessoas - entre elas, 13 soldados americanos - e feriram cerca de 140, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um pronunciamento à nação em que anunciou que irá retaliar o grupo Estado Islâmico - auto declarado autor dos ataques - lamentou as vidas perdidas mas garantiu que os esforços para concluir a evacuação do Afeganistão não irão ser interrompidos.
"Nós não vamos perdoar, nós vamos esquecer. Nós vamos caçá-los e fazê-los pagar", afirmou Biden aos militantes do Isis-K, filial do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) que atua no Afeganistão e no Paquistão e é rival do Talebã.
"Responderemos com força e precisão no momento e local de nossa escolha", anunciou Biden, que garantiu que "os EUA não serão intimidados" pela ação do grupo.
O Isis-K é considerado o mais extremo e violento de todos os grupos militantes jihadistas no Afeganistão e recruta tanto afegãos quanto paquistaneses, especialmente membros desertores do Talebã afegão que não consideraram sua própria organização radical o suficiente.
"Não permitiremos que eles interrompam a nossa missão. Continuaremos a evacuação", assegurou Biden. Os EUA têm apenas mais quatro dias, segundo o prazo acordado com o Talebã, pra retirar do território cerca de mil civis americanos, milhares de aliados afegãos e o contingente de cinco mil militares que comandam os trabalhos no aeroporto de Cabul. Biden afirmou contar com "unanimidade"no comando militar americano para seguir com a operação.
As explosões aconteceram na manhã dessa quinta-feira, 26 de agosto, e foram levadas a cabo por homens suicidas que explodiram coletes recheados de bombas em meio à multidão em um dos portões do Aeroporto e na área próxima a um hotel usado por americanos e aliados. Biden chamou os americanos mortos de heróis e recorreu à memória de seu filho mais velho, Beau, que serviu às forças armadas no Iraque e morreu em decorrência de um câncer, para expressar empatia com a dor das famílias das vítimas.
Ao longo da semana, o risco de um atentado era considerado "iminente" e "muito alto" pelo serviço de inteligência americano. Biden citou especificamente ameaças do Estado Islâmico como uma justificativa para não estender o prazo de evacuação, como queriam alguns aliados do G7. As autoridades americanas defendiam que cada dia adicional em solo afegão representava um aumento exponencial do perigo para as tropas.
Na última madrugada, a embaixada americana em Cabul já alertava cidadãos americanos a não se deslocarem para o aeroporto e recomendava que aqueles que estivessem em algum dos três portões do Aeroporto Internacional Hamid Karzai deixassem imediatamente o local.
Em uma coletiva do Pentágono, o general americano Kenneth McKenzie disse que "o ataque ao Abbey Gate foi seguido pela ação de vários homens armados que abriram fogo contra civis e forças militares" e que houve falhas no perímetro de segurança gerenciado por patrulhas do Talebã.
Questionado sobre se os americanos deveriam confiar tarefas de sua própria segurança ao grupo radical, Biden afirmou que não se tratava de "confiança", mas de "interesses próprios mútuos". "Ninguém confia neles (Talebã), contamos apenas que eles ajam em interesse próprio. E é do interesse deles que partamos quando dissemos que partiríamos e que retiremos o máximo de pessoas possível", disse.
O presidente americano foi também perguntado sobre se seu governo teria repassado informações sobre americanos ainda em solo afegão ao Talebã, o que poderia torná-lo alvos de ataques.
"Houve ocasiões em que nossos militares entraram em contato com seus homólogos militares no Talibã e disseram, por exemplo, que este ônibus está passando, com um número X de pessoas composto pelo seguinte grupo de pessoas. 'Queremos que você deixe aquele ônibus ou grupo passar', então sim, houve ocasiões como essa. E, pelo que sei, nesses casos, a maior parte do ocorrido, eles foram deixados passar", afirmou Biden.
O novo episódio na crise do Afeganistão fez com que Biden cancelasse o encontro bilateral que teria na Casa Branca com o primeiro-ministro israelense Naftali Bennett. O democrata está sob intenso escrutínio depois que o Talebã tomou o controle político e militar do Afeganistão em uma questão de semanas após a completa retirada dos militares americanos do país, em julho.
As cenas que se seguiram, de resgate de diplomatas americanos na embaixada em Cabul a afegãos agarrados à fuselagem de um avião militar americano, eclipsaram o fato de que Biden encerrou uma guerra de 20 anos, impopular entre a maior parte dos americanos.
Biden tenta negar que tenha cometido erros na operação. Perguntado sobre se assumiria responsabilidade por algo que aconteceu no Afeganistão desde julho, ele afirmou que era o responsável por " fundamentalmente tudo", mas reafirmou que "era hora de terminar com um guerra de 20 anos".
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