Estados Unidos

Biden busca retomar o controle da narrativa sobre o Afeganistão

A popularidade de Joe Biden está despencando nas pesquisas, e a desaprovação sobre como lida com o Afeganistão foi de 60%

Quando Joe Biden foi questionado sobre sua popularidade despencando nas pesquisas, o presidente dos Estados Unidos abriu um largo sorriso. A retirada das tropas do Afeganistão pode parecer desastrosa, mas o democrata está confiante de que, no final, terá razão.


Após os talibãs completarem tomada de poder no Afeganistão, ao chegarem a Cabul, o governo Biden parecia encurralado.


O caos tomou conta da capital enquanto afegãos em pânico corriam para o aeroporto tentando fugir, com cenas horríveis de pessoas caindo ao tentarem se segurar nos aviões enquanto decolavam.


Biden se manteve em silêncio nos primeiros momentos, gerando uma onda de críticas dos republicanos e até de seus próprios aliados. O Pentágono e seus relatórios diários preencheram a lacuna de informações deixada pela Casa Branca.


Agora, porém, a Presidência tenta retomar o controle da narrativa. Biden, de 78 anos, toma a palavra com uma mensagem que insiste que os americanos não estão testemunhando um desastre, mas uma retirada corajosa de uma guerra que tinha que terminar.


Até o momento, essa abordagem não está ajudando a posição política de Biden, já atingida pelo surgimento da variante delta do coronavírus e por uma forte polêmica sobre o uso de máscaras e vacinas.


Uma pesquisa da NBC divulgada no domingo deu a Biden 49% de aprovação, ante 53% quatro meses antes. A desaprovação do democrata disparou de 39% para 48%.


Quanto ao modo como lida com o Afeganistão, a desaprovação foi de surpreendentes 60%.


No entanto, Biden é um político cuja configuração padrão é o otimismo.


Quando confrontado por jornalistas sobre os números sombrios das pesquisas, ele apenas sorriu e riu. "Eu não vi essa pesquisa", garantiu.

 

Ponte aérea dá esperança 


Se há alguém que está trabalhando duro para reescrever o roteiro do criticado governo, é o exército, que montou uma ponte aérea notavelmente eficiente de Cabul.


Os últimos números indicam que os aviões americanos retiraram mais de 37.000 pessoas desde 14 de agosto e 42.000 desde julho.


Biden usou sua famosa habilidade de expressar emoções para elogiar o esforço militar dos americanos, enquanto mostra sua empatia pelos realocados.


"Uma operação incrível", disse ele no domingo. Mas misturado com patriotismo e empatia está um elemento mais novo: o amor duro.


O argumento de Biden é que, sim, pode haver caos, mas o caos é inevitável quando se sai de uma guerra civil, e sair é o único objetivo que realmente importa.


"A evacuação de milhares de pessoas de Cabul será difícil e dolorosa, independentemente de quando começou", disse ele. "Não há como retirar tantas pessoas sem dor e perda, imagens de partir o coração que você vê na televisão. É um fato. Meu coração dói por essas pessoas".


O presidente também diz estar confiante no resultado de longo prazo. Mas o tempo pode não estar do seu lado.


No sentido mais imediato, está sob pressão para concluir as retiradas em massa antes do prazo final, de 31 de agosto, acordado com os talibãs, que permaneceram à margem para permitir a saída de seu inimigo.


E, com o passar do tempo, a capacidade de Biden de comandar o navio político em um país onde seus oponentes se escondem e seus aliados estão no limite está se esgotando.


Dois gigantescos pacotes de gastos em infraestruturas que deviam ser as joias da coroa da primeira legislatura estão agora em suspenso enquanto os líderes democratas do Congresso continuam tentando assegurar os votos suficientes na dividida Câmara de Representantes.


Um pouco mais longe no horizonte, vislumbra-se a prova das eleições de meio de mandato, nas quais os democratas poderiam perder inclusive as estreitas maiorias que têm agora no Congresso.

 

 

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© Agence France-Presse