ESFORÇO INTERNACIONAL

EUA vai realizar Cúpula pela Democracia em dezembro

Joe Biden anuncia encontro virtual com líderes para firmar compromissos na luta contra o autoritarismo e a corrupção e no respeito aos direitos humanos

A advertência, feita por Joe Biden durante discurso na Conferência de Segurança de Munique (Alemanha), em 19 de fevereiro passado, expôs uma das prioridades da Casa Branca. “A democracia não acontece por acidente. Nós temos de lutar por ela, fortalecê-la, renová-la”, disse o presidente norte-americano.

Ontem, Biden anunciou que os Estados Unidos realizarão uma Cúpula pela Democracia, em formato virtual. Entre 9 e 10 de dezembro, chefes de Estado e de governo firmarão compromissos e iniciativas na defesa contra o autoritarismo, no combate à corrupção e na promoção do respeito aos direitos humanos.

Não foram divulgados detalhes do encontro à distância, como a agenda ou os líderes participantes. Além dos governantes, serão convidados a sociedade civis, entidades filantrópicas e representantes do setor privado. A cúpula é vista como uma alternativa ao G20 — as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia — e como uma espécie de recado à China, acusada de abusos contra os uigures (minoria étnica muçulmana na província de Xinjiang) e de reprimir os anseios pela independência em Hong Kong, antiga colônia britânica.

Biden tem se esforçado para consolidar o papel dos Estados Unidos como “líder do mundo livre” e recuperar o multilateralismo, menosprezado durante o governo do republicano Donald Trump. Nesse sentido, a cúpula visa reposicionar a diplomacia norte-americana.

Por meio de um comunicado, a Casa Branca explicou que, para Biden, o desafio dos tempos atuais é demonstrar a capacidade das democracias de aprimorarem a vida de seus cidadãos e de atenderem aos principais problemas do planeta. “Nos seis primeiros meses de governo, o presidente revigorou a democracia, internamente, ao vacinar 70% da população, ao aprovar o Plano de Resgate Americano e ao avançar a legislação bipartidária para investir em infraestrutura e competitividade”, afirma a nota.

“Ele (Biden) reconstruiu nossas alianças com parceiros e aliados democráticos, reunindo o mundo para se levantar contra abusos dos direitos humanos, enfrentar a crise climática e combater a pandemia, inclusive com a doação de centenas de milhões de doses para outros países.”

Dois meses atrás, em seu tour pela Europa, Biden propôs às democracias ocidentais do G7 — os sete país mais ricos do mundo — a adoção de um plano de infraestruturas para fazer frente a Iniciativa Cintura e Rota da Seda da China. Ele também presidiu uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para discutir a influência chinesa de forma mais explícita do que nunca, segundo a agência de notícias France-Presse.

Reafirmação

Em entrevista ao Correio, James Naylor Green — historiador político da Universidade Brown (Rhode Island) e discípulo do falecido brasilianista Thomas Skidmore — explicou que Biden quer reafirmar o papel internacional dos Estados Unidos a partir da derrota de Trump. “O ex-presidente republicano recuou bastante nas entidades internacionais onde os EUA sempre tinham muito poder e influência.

Vejo dois significados nesta cúpula: um é reafirmar a hegemonia internacional norte-americana contra a China e a Rússia; outro é a adoção de um discurso mais democrático, atendendo a uma pressão da base do Partido Democrata e de setores do Congresso”, afirmou.

“De um lado, Biden envia a CIA (Agência Central de Inteligência) ao Brasil para falar sobre a tecnologia 5G; por outro lado, mandará representantes dizendo que não aceitam um golpe militar no Brasil”, exemplificou. De acordo com ele, isso expõe uma contradição típica do Partido Democrata.

Ao ser questionado sobre como Biden enfrentará regimes autoritários, Green admitiu que sanções financeiras não funcionarão. “Ele e seus aliados precisarão exercer uma pressão internacional sobre esses regimes, isolando-os e expondo os abusos cometidos. Também terão que apoiar forças democráticas”, comentou o estudioso norte-americano.

» Pauta diversa

Data
A primeira edição ocorrerá em 9 e 10 de dezembro.

Formato
Em razão da pandemia da covid-19, a cúpula será virtual. Dentro de um ano, a segunda edição será presencial, em data a ser marcada.

Participantes
Chefes de Estado e de governo, além de representantes da sociedade civil e do mundo econômico “de um diverso grupo de nações democráticas”.

Foco principal
A cúpula se centrará em desafios e oportunidades enfrentadas pelas democracias. Também fornecerá uma plataforma para os líderes fazerem compromissos individuais e coletivos na defesa da democracia e dos direitos humanos em seus países e no exterior.

Os temas-chave
» Defesa contra o autoritarismo;
» Abordagem e luta contra a corrupção;
» Avanço no respeito aos direitos humanos.

Saiba Mais

Inteligência estima queda de Cabul em três meses

Um quarto do território do Afeganistão está sob o controle do Talibã. A milícia fundamentalista islâmica mantém presença em nove das 34 províncias do país. Uma estimativa feita pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos aponta que Cabul poderá cair nas mãos dos mujahedine (guerrilheiros islâmicos) dentro de três meses. “Tudo está se movendo na direção errada”, admitiu ao jornal The Washington Post uma autoridade que teve acesso ao relatório sobre o Afeganistão.
“Nós capturamos as capitais de nove províncias. O progresso está em andamento. Se mantivermos isso, Cabul será tomada em breve”, afirmou ao Correio, por meio do WhatsApp, Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã. Ao ser questionado sobre a situação nas cidades invadidas pelo grupo, ele usou a palavra “normal”.
Chefe do Departamento de Pesquisa sobre Paz e Conflito da Universidade Uppsala (Suécia), Ashok Swain acredita que a estimativa de três meses é “conservadora”. “A captura de Cabul pode ocorrer mais rapidamente. O Talibã sentiu o cheiro da vitória completa; o apoio recentemente obtido da China tornou a milícia mais ousada. A mudança do comandante do Exército afegão no meio da guerra mostra o fracasso em travar até mesmo uma luta decente”, explicou à reportagem. Swain se referia ao general Wali Mohammad Ahmadzai. “O governo do Afeganistão e as forças de segurança não têm planos ou o desejo de conter o avanço talibã. Ele parece ter aceitado a derrota”, alertou.
Segundo a emissora Al-Jazeera, o ministro do Interior afegão, general Abdul Sattar Mirzakwal, revelou que as forças do seu país estão focadas em proteger as principais rodovias, as grandes cidades e as passagens fronteiriças. Ontem, o presidente Ashraf Ghani visitou Mazar-i-Sharif, cidade do norte que se encontra cercada pelos talibãs. A visita é uma tentativa do governo de criar uma resposta coordenada ao avanço dos insurgentes.
Zabihullah Attiq, deputado da província de Badakshan, confirmou à agência France-Presse que as forças de segurança afegãs fugiram para distritos vizinhos. “Os talibãs tomaram a cidade. Os dois lados sofreram baixas importantes”, disse. Um incidente em Kunduz (nordeste) mostrou a fragilidade do Exército do Afeganistão. Centenas de soldados se renderam aos talibãs, depois de se entrincheirarem perto do aeroporto. (RC)