As forças afegãs lutavam, nesta segunda-feira (2), para evitar que algumas das principais cidades do país caíssem nas mãos dos talibãs, na esteira das ofensivas do fim de semana.
Os talibãs atacaram pelo menos três capitais provinciais durante a noite - Lashkar Gah, Kandahar e Herat - após um fim de semana de combates pesados, em que milhares de civis fugiram do avanço dos insurgentes.
Os combates aumentaram em Lashkar Gah, capital da província de Helmand, onde os talibãs lançaram ataques coordenados contra o centro da cidade e sua prisão, poucas horas depois de o governo anunciar o envio de centenas de comandos para a área.
Os combates se intensificaram desde o início de maio, quando os insurgentes aproveitaram a fase final da retirada das forças estrangeiras comandadas pelos Estados Unidos, após quase 20 anos de presença.
O presidente Ashraf Ghani culpou Washington pela deterioração da segurança no Afeganistão.
"A razão da nossa situação atual é que esta decisão foi tomada abruptamente", disse Ghani hoje no Parlamento, assegurando que advertiu Washington de que a retirada teria "consequências".
No sul do Afeganistão, os combates continuaram durante a noite em Lashkar Gah, enquanto as forças afegãs repeliam um novo ataque dos talibãs.
"As forças afegãs no solo e por meio de ataques aéreos repeliram o ataque", disse o Exército em Helmand.
"Há combates, cortes de energia, doentes hospitalizados, redes de telecomunicações desligadas. Não há remédios, e as farmácias estão fechadas", lamentou Hawa Malalai, uma moradora local.
Por anos, Helmand foi o centro da campanha militar dos Estados Unidos e do Reino Unido no Afeganistão.
Os vastos campos de papoula da província fornecem a maior parte do ópio para o comércio internacional de heroína, tornando-o uma fonte lucrativa de impostos e de receita para os talibãs.
A perda de Lashkar Gah seria um golpe estratégico e psicológico para o governo, que prometeu defender as capitais provinciais a todo custo depois de perder grande parte das áreas rurais para os talibãs nas últimas semanas.
"Erros estratégicos"
Os combates também se intensificaram em alguns distritos da província de Kandahar, um antigo reduto dos insurgentes, e nos arredores de sua capital de mesmo nome.
O aeroporto de Kandahar foi atacado na noite de domingo. Os talibãs lançaram foguetes que danificaram a pista, causando a suspensão dos voos por várias horas.
Esta instalação é vital para manter a logística e o apoio aéreo necessários para evitar que os insurgentes invadam a cidade, ao mesmo tempo em que fornece apoio aéreo em grandes áreas do sul do Afeganistão, incluindo a vizinha Lashkar Gah.
No oeste, centenas de comandos também estavam defendendo Herat, após dias de combates pesados.
"A ameaça é alta nessas três províncias (...) mas estamos determinados a repelir seus ataques", declarou o porta-voz das forças de segurança afegãs, Ajmal Omar Shinwari, a repórteres no domingo.
Cabul minimizou os constantes avanços dos insurgentes nas últimas semanas, considerando-os sem valor estratégico, mas não foi capaz de revertê-los.
O presidente Ghani disse que as autoridades traçaram um plano de seis meses contra os talibãs, mas reconheceu que os insurgentes não são mais um "movimento disperso e inexperiente".
"Estamos lutando contra um comando e uma liderança organizados, apoiados por uma coalizão profana de terrorismo internacional e seus círculos de apoio", denunciou.
A captura de uma grande cidade por parte dos talibãs levaria sua ofensiva a outro nível e aumentaria as preocupações sobre as capacidades do Exército afegão.
"Se as cidades afegãs caírem (...) a decisão dos EUA de se retirarem do Afeganistão será lembrada como um dos erros estratégicos mais notáveis da política externa americana", opina Nishank Motwani, especialista em Afeganistão que trabalha na Austrália.
No passado, os talibãs tomaram cidades afegãs, mas mantiveram o controle sobre elas apenas por um curto período.