O aeroporto de Cabul, centro nervoso das operações de evacuação nos últimos 15 dias, está sob controle do Talibã, após a partida do último avião militar dos Estados Unidos do Afeganistão na noite de segunda-feira (30).
Estas são as questões a respeito do futuro do aeroporto após a retirada, vista como uma vitória pelo principal porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, que esteve no complexo na manhã desta terça-feira (31).
Quem será o responsável pela segurança?
Os últimos incidentes mostraram que o aeroporto pode ser alvo de ataques terroristas. Sua segurança é uma questão crucial.
O atentado suicida na quinta-feira passada, reivindicado pelo Estado Islâmico de Khorasan (EI-K), que deixou mais de 100 mortos, incluindo 13 soldados americanos, ocorreu em um dos acessos do complexo.
Na segunda-feira, o sistema de defesa antimísseis interceptou foguetes lançados pelo EI-K.
Na véspera da tomada do poder pelo Talibã, em 15 de agosto, os americanos e seus aliados organizaram uma ponte aérea para retirar seus cidadãos e afegãos em risco. No total, 123.000 pessoas foram retiradas do país em duas semanas.
A Turquia propôs assumir a segurança, mas os fundamentalistas sempre disseram que não aceitariam qualquer presença militar estrangeira depois de 31 de agosto.
"Nossos caças e nossas forças especiais são capazes de controlar o aeroporto e não precisamos da ajuda de ninguém para manter a segurança e o controle administrativo do aeroporto de Cabul", disse um porta-voz do movimento, Bilal Karimi, à AFP na segunda-feira.
Mas Michael Kugelman, especialista em Sul da Ásia do Wilson Center em Washington, acredita que a presença de segurança estrangeira é essencial para garantir o retorno das companhias aéreas estrangeiras e que um acordo ainda é possível.
"Este é um ambiente muito volátil em termos de segurança", explica à AFP. As empresas comerciais "não se sentirão muito bem em ir a este aeroporto", aponta.
Quem fará a logística do aeroporto?
O porta-voz do Departamento americano de Estado, Ned Price, disse na sexta-feira que, do ponto de vista americano, o aeroporto foi entregue aos "afegãos".
Nas últimas semanas, a Otan desempenhou um papel crucial. Seu pessoal civil ficou responsável pelo controle aéreo, fornecimento de combustível e comunicações.
A Turquia também manteve negociações para fornecer assistência técnica.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, indicou que seu país estava em discussões com o Talibã, mas com a insistência dos radicais islâmicos, parece ter abandonado a ideia.
Manter e gerenciar um aeroporto é uma tarefa complexa.
Não é certo que o Talibã tenha pessoal com conhecimento suficiente para isso, depois que milhares de afegãos qualificados deixaram o país.
Em que estado está o aeroporto?
As autoridades americanas reconheceram que o aeroporto estava em más condições e que grande parte de sua infraestrutura de base foi danificada ou destruída.
Um piloto disse à AFP que o edifício do terminal de passageiros foi saqueado por pessoas que invadiram o complexo nas horas confusas que se seguiram à tomada do poder pelo Talibã.
Para que os voos comerciais retornem, a torre de controle aéreo terá que ser substituída.
As duas pistas ainda estão operacionais, como se viu nestas duas semanas de evacuações, mas também não estão em boas condições.
Voos comerciais serão retomados?
O Talibã reiterou que deseja manter o aeroporto civil aberto. Mas sem garantias reais de segurança, as empresas comerciais não voltarão a Cabul.
Uma "verdadeira tempestade de riscos" aguarda essas empresas, prevê Kugelman.
Ter um campo de aviação operacional permitiria ao Talibã melhorar sua imagem internacionalmente.
"Se o Talibã busca o reconhecimento e a legitimidade de governos de todo o mundo, ele precisa de um aeroporto que funcione, onde a segurança seja garantida e que possa ser confiável", acrescenta o especialista.
Os afegãos terão permissão para deixar o país?
O Talibã garante que os afegãos com passaporte e visto poderão partir e retornar.
Porém, muitos afegãos e observadores questionam as promessas dos fundamentalistas, bem como seu compromisso de não atacar pessoas que trabalharam para as forças estrangeiras ou para o governo anterior.
Também é muito provável que os afegãos que não tiveram acesso a voos de retirada estejam agora com muito medo de voltar ao aeroporto, observa Kugelman.
"Para muitos deles, que já têm motivos para temer o Talibã, a ideia de fugir do país por meio de um aeroporto controlado pelos insurgentes não é muito agradável", avalia.
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