O presidente americano, Joe Biden, recebeu nesta sexta-feira (27), na Casa Branca, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, uma visita ofuscada pelo atentado mortal contra a missão de retirada do Afeganistão, liderada pelos Estados Unidos.
"Meu coração está com todos os que perdemos", disse Biden, quando os dois se encontraram depois que a reunião, prevista para a quinta-feira, foi adiada.
Após oferecer suas condolências, Bennett anunciou ao democrata: "Trago comigo um novo espírito. Um espírito de boa vontade. Um espírito de esperança. Um espírito de decência e honestidade. Um espírito de unidade e bipartidarismo".
Bennett sucedeu Benjamin Netanyahu, que durante seus 15 anos no poder abraçou os republicanos e foi antagonista dos democratas.
Mesmo assim, em sua primeira visita oficial ao exterior, o primeiro-ministro israelense de 49 anos manteve muitas das opiniões de linha-dura de seu antecessor.
"Não podemos perder de vista nem por um momento que estamos na vizinhança mais difícil do mundo", afirmou, mencionando o grupo Estado Islâmico (EI) e os movimentos Hezbollah, Jihad Islâmica e Hamas.
"É por isso que Israel sempre tem que ser esmagadoramente mais forte do que (...) todos os nossos inimigos juntos", disse.
Além do encontro entre Biden e Bennett, estava prevista uma reunião mais ampla com o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken; o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan; o assessor de segurança nacional de Israel, Eyal Hulata; o embaixador de Israel em Washington, Gilad Erdan, e o assessor principal de Bennett, Shimrit Meir.
- Palestinos -
Bennett assumiu em junho como líder de uma coalizão eclética na qual seu partido de linha dura tem apenas alguns assentos. Seu governo inclui falcões a favor dos assentamentos, como ele, assim como pombos políticos e o primeiro partido árabe a formar a coalizão.
Bennett "lidera e dirige o governo mais diverso da história de Israel", disse Biden sobre o premier.
Mas as posições de Bennett sobre temas-chave vão de encontro com as da Casa Branca. Ele disse que continuará a construção de assentamentos e é contrário a um Estado palestino nos territórios que Israel anexou em 1967.
Além disso, se opõe a que os Estados Unidos reabram um consulado em Jerusalém para atender os assuntos palestinos, que o antecessor de Biden, Donald Trump, fechou em 2019 depois de transferir a embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv a Jerusalém.
Em Washington, Bennett se esforçou por ressaltar as coincidências. "Israel sabe que não temos um aliado melhor ou mais confiável no mundo do que os Estados Unidos", assegurou.
Biden destacou o "compromisso inquebrantável" dos Estados Unidos com a segurança de Israel, incluindo o reabastecimento do sistema de defesa antimísseis israelense Domo de Ferro.
"Também vamos discutir formas de proteger a paz, a segurança e a prosperidade para israelenses e palestinos", acrescentou, dando a entender certas diferenças de opinião.
Shibley Telhami, professor de paz e desenvolvimento da Universidade de Maryland, avaliou que o ataque em Cabul não afetaria o posicionamento de Biden sobre os palestinos.
"Reduz ainda mais o tema israelense-palestino na lista de prioridades de Biden, com o que é inclusive menos provável que desafie Bennett sobre isso", apostou.
- "Diplomacia primeiro" no Irã -
Bennett disse no Salão Oval que os atentados em Cabul destacaram o risco potencial de um Irã dotado de armas nucleares.
"Estes dias ilustram como seria o mundo se um regime islâmico adquirisse uma arma nuclear", disse Bennett a Biden.
Israel se opõe ferozmente à tentativa de Biden de reverter a retirada de Trump do acordo nuclear de 2015, que suspendeu as sanções ao Irã em troca de que a República Islâmica freie seu programa nuclear.
Desde que Trump retirou os Estados Unidos do pacto, o Irã se retirou de compromissos-chave, incluindo o enriquecimento de urânio.
Biden reiterou o compromisso dos Estados Unidos de garantir que "o Irã nunca desenvolva uma arma nuclear".
"Mas estamos antepondo a diplomacia, vendo aonde nos leva. Mas se a diplomacia falhar, estamos prontos para recorrer a outras opções", destacou.
Dan Kurtzer, ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel, disse à AFP que a visita de Bennett daria um novo tom inclusive às divergências.
"Os anos de Netanyahu, especialmente com os presidentes democratas, foram marcados por muito rancor de parte de Israel e franca falta de respeito com a Presidência", disse.
Nesta sexta, Biden e Bennett se esforçaram por mostrar proximidade.
"Foi muito generoso com seu tempo nestes dias difíceis", disse Bennett.
"É genial ter o primeiro-ministro aqui. Nos tornamos grandes amigos. Viajou muito no trem da Amtrak de Nova York a Wilmington", comentou Biden, famoso por pegar o trem da Amtrak de Washington até sua cidade, Wilmington, quando era senador.
© Agence France-Presse
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