Os talibãs alertam, novamente, nesta terça-feira (24) que as retiradas de afegãos devem terminar em 31 de agosto, apesar dos pedidos ocidentais para prolongar o prazo, e exigiram que os afegãos mais qualificados permaneçam no país.
Até agora, cerca de 60.000 pessoas, estrangeiros e afegãos, foram retiradas do país do aeroporto de Cabul desde 14 de agosto, a maioria delas em voos militares dos EUA, segundo dados de Washington. Mas uma multidão ainda está reunida do lado de fora das instalações, esperando a oportunidade de ir embora.
Os fundamentalistas reiteraram, nesta terça-feira, que se opõem à extensão do prazo além de 31 de agosto, data em que está prevista a retirada total das tropas estrangeiras.
Um dos porta-vozes do movimento, Zabihullah Mujahid,acusou as potências estrangeiras de levarem "especialistas afegãos", como engenheiros. “Pedimos que interrompam essas operações”, exigiu.
“Eles têm aviões, eles têm o aeroporto, deveriam tirar seus cidadãos e empreiteiros daqui”, disse. Mas não deveriam incitar os afegãos a fugirem do Afeganistão", acrescentou.
"Enquanto for necessário"
Pondo fim a duas décadas de guerra com uma ofensiva relâmpago que os levou a assumir o controle de Cabul em 15 de agosto, assim como da maior parte do país, os talibãs afirmaram que o prazo de 31 de agosto é uma "linha vermelha" e ameaçaram com "consequências" se os países ocidentais prolongarem a "ocupação".
Horas após as novas advertências talibãs, o presidente americano Joe Biden decidiu cumprir o prazo estabelecido, informaram as redes CNN, Fox News e outros veículos, citando altos funcionários americanos.
Biden tomou a decisão depois de participar de uma cúpula telemática com os líderes do G7, na qual a União Europeia lhe pediu para manter a segurança do aeroporto de Cabul "enquanto for necessário" para "concluir as operações de retirada".
O G7 parece, no entanto, confirmar a decisão de Biden. Em seu comunicado final, pediu aos talibãs para "garantirem uma passagem segura" depois do prazo atual de 31 de agosto para quem quiser abandonar o Afeganistão.
Este pedido é a "primeira condição que colocamos como G7" ao novo regime do Talibã, disse o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
O G7 também alertou aos fundamentalistas que "terão que prestar contas de suas ações para prevenir o terrorismo e sobre os direitos humanos, especialmente os das mulheres". Destacou que o Afeganistão "não deve voltar a ser um refúgio para o terrorismo e uma fonte de ataques terroristas contra outros países".
Mulheres funcionárias
No Afeganistão, os cidadãos que trabalharam para governos ou empresas estrangeiras nos últimos anos, artistas ou pessoas que defenderam a abertura do país e os direitos das mulheres ou minorias sabem que são alvos dos extremistas.
Na terça-feira, em sua coletiva de imprensa, o porta-voz talibã garantiu que as mulheres afegãs poderão retornar ao trabalho quando "a segurança estiver garantida".
"Queremos que trabalhem, mas também que a segurança seja boa" para isso, disse Zabihullah Mujahid, que frisou que, por enquanto, as mulheres devem ficar em casa.
"Linha Vermelha"
A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, advertiu que a forma como o Talibã pretende tratar as mulheres, especialmente no que diz respeito ao seu direito à educação, representará uma "linha vermelha".
Bachelet, que no início de agosto havia mencionado "relatórios que mostravam violações que poderiam constituir crimes de guerra" no Afeganistão, destacou que recebeu "informações confiáveis sobre graves violações do direito humanitário internacional e ataques contra os direitos humanos em várias zonas sob controle talibã".
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, alertou que só tem no país suprimentos de saúde suficientes para "uma semana".
Os talibãs, que trabalham na formação de um novo governo, afirmam que mudaram em comparação com o regime que administrou o país há 20 anos, quando estabeleceram um regime brutal e fundamentalista entre 1996 e 2001.
Um relatório da ONU divulgado na semana passada afirma, no entanto, que os islamitas seguem de "porta em porta" para procurar pessoas que trabalharam com o antigo governo, ou com as tropas internacionais.
Os fundamentalistas conseguiram impor uma calma relativa na capital, onde patrulham as ruas, mas o medo continua presente. Muitos cidadãos, sobretudo mulheres, não se arriscam a sair de casa.
Um núcleo de resistência aos talibãs persiste no vale de Panshir, ao nordeste de Cabul, chamado Frente Nacional de Resistência (FNR). O movimento é liderado por Ahmad Masud, filho do célebre comandante Masud, assassinado em 2001, e por Amrullah Saleh, vice-presidente do governo derrubado.
Na segunda-feira, os talibãs afirmaram que cercaram a região de Panshir, mas que preferiam negociar antes de combater.
O porta-voz da FNR, Ali Maisam Nazary, disse à AFP que se prepara "para um conflito de longa duração" com os talibãs, caso não seja alcançado um acordo para um "sistema de governo descentralizado".
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