Quase 600.000 hectares foram queimados no departamento boliviano de Santa Cruz, leste do país, por causas que poderiam ser evitadas desde o início de 2021, e 64% destruíram áreas protegidas.
A catástrofe atual recorda os incêndios devastadores dos últimos dois anos.
Até segunda-feira (23) à noite, 20 incêndios permaneciam ativos em nove municípios, com sete áreas protegidas afetadas. Em apenas dois dias, 200.000 hectares foram destruídos.
A maior parte dos incêndios se concentra nas florestas de Chiquitanía, uma região de transição entre a Amazônia (ao norte), as planícies de Chaco (ao sul) e o Pantanal, a maior área úmida do mundo (ao sudeste).
Quilômetros de cinzas e de solos rachados sob milhares de palmeiras carbonizadas são, ao lado de animais magros e desorientados, a paisagem predominante ao se entrar na reserva de San Matías.
Com uma superfície de tamanho similar à da Bélgica, este parque nacional é um dos mais afetados. As chamas consumiram mais de 230.000 hectares desde 11 de julho e avançaram pelo menos 65 quilômetros na reserva.
O incêndio está fora de controle, admitiu o vice-ministro de Defesa Civil, Juan Carlos Calvimontes, que supervisiona o combate ao fogo.
Bombeiros voluntários e guardas florestais com poucos recursos e ferramentas tentam, desesperados, conter o avanço das chamas. Vão cavando trincheiras e limpando o terreno, mas é difícil se aproximar do fogo.
O governo central mobilizou 1.800 militares e dois helicópteros para a missão.
O vice-ministro Calvimonentes afirmou que uma lei impede o Executivo de intervir, ou de pedir ajuda aos países vizinhos, caso as autoridades locais e regionais não declarem uma situação de "desastre".
A declaração é possível apenas quando todos os níveis de governo esgotam o orçamento para o combate aos incêndios, algo que, segundo autoridades de Santa Cruz, ainda não aconteceu.
Calvimontes disse que o único modo de intervir é com os militares, mas estes "não foram treinados especificamente para esta tarefa".
"A lei deveria ser modificada", completou.
A coordenadora do Programa de Gestão do Fogo de Santa Cruz, Yovenka Rosado, destacou que os oficiais do departamento foram capacitados pelo governo e receberam equipamentos.
Fontes próximas ao Sistema Nacional de Áreas Protegidas (SERNAP), que pediram anonimato por medo de sofrerem represálias, afirmaram que existe uma tentativa de "maquiar" a situação para "dar a sensação de que está tudo sob controle".
Tanto o governo nacional do presidente Luis Arce, quanto a administração de Santa Cruz, de Luis Fernando Camacho, concordam em que a maioria dos incêndios foi intencional.
Na Bolívia e em outros países da América do Sul, é tradicional a queima de terras para transformar florestas em áreas agrícolas, ou para limpar a terra para o próximo plantio.
A prática é legal na Bolívia por meio de autorização entre maio e julho.
A lei permite a queimada de até 20 hectares, mas alguns superam o limite, ou recorrem à prática depois do período permitido.
A multa para as queimadas ilegais é de US$ 1 por hectare e é cobrada por toda extensão da propriedade, independentemente de quanto já tenha sido queimado.
Se a queimada provocar um grande incêndio, a pena pode chegar a três anos de prisão.
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