MACHISMO

Indonésia vai abolir 'teste de virgindade' para mulheres do Exército

A exigência se estendia até mesmo às noivas de policiais militares, que precisavam passar pelo mesmo processo antes de se casar

BBC
Cristina J. Orgaz - Da BBC News Mundo
postado em 11/08/2021 17:35
Jovem mulher usando uniforme militar da Indonésia faz continência
Getty Images
Exigência era considerada abusiva por mulheres, médicos e defensores dos direitos humanos

Durante décadas, a Indonésia exigiu que as mulheres que queriam entrar para as Forças Armadas fizessem um 'teste de virgindade' que consistia em um exame feito pelo médico, com a inserção de dois dedos na vagina, para verificar se o hímen estava intacto.

Mulheres que eram "reprovadas" no exame perdiam a vaga e podiam dar adeus a uma possível carreira militar.

Em alguns casos, a exigência se estendia até mesmo às noivas de policiais militares, que precisavam passar pelo mesmo processo antes de se casar.

Neste mês o Exército anunciou que vai mudar as regras e a partir de agora as candidatas serão avaliadas apenas quanto a sua capacidade e aptidão para o treinamento físico.

Não está claro se a mudança vai valer só para o Exército ou também para as outras Forças Armadas do país.

Jovem mulher entrega papel para homem vestido com uniforme militar
Getty Images
A Human Rights Watch considera a exigência do exame um tipo de violência de gênero

O que era o 'teste de virgindade'?

O teste fazia parte de uma análise médica mais ampla a que todos os candidatos são submetidos, para verificar o estado de saúde do recruta.

Porém o exame ginecológico era apenas para mulheres - os homens não precisavam passar por uma análise de suas partes íntimas.

A prática é algo que há anos organizações de direitos humanos denunciam como abusiva e discriminatória.

"Um 'teste de virgindade' é uma forma de violência de gênero e é uma prática amplamente desacreditada", afirma Andreas Hasorno, pesquisador da organização Human Rights Watch, dedicada à defesa dos direitos humanos, na Indonésia.

"O teste ginecológico inclui a prática invasiva de inserir dois dedos na vagina para provavelmente avaliar se a mulher já fez sexo antes", diz ele.

Muitas mulheres que deram depoimento à Human Rights Watch afirmaram que o procedimento ao qual foram submetidas era doloroso.

Mulheres do exército da Indonésia fazem fileira de uniforme
Getty Images
Não está claro se a mudança vale somente para o Exército ou se vale para todos os militares

Fim dos exames invasivos

Em novembro de 2014 a Organização Mundial de Saúde determinou que testes com o objetivo de verificar "virgindade" não têm validade científica.

Médicos e especialistas em saúde reprodutiva afirmam que a preservação do hímen não tem nenhuma relação com o que popularmente se considera "virgindade". Aliás, "virgindade" sequer é um termo médico ou científico.

O comandante do Exército da Indonésia, Andika Perkasa anunciou neste mês o fim da exigência deste tipo de exame para as mulheres que desejam entrar nas Forças Armadas.

"Já não será mais necessário", disse ele. "O objetivo do processo de seleção é verificar a saúde", afirmou Perkasa.

A partir de agora as candidatas serão avaliadas apenas quanto a sua capacidade e aptidão para o treinamento físico.

"O comando do exército está fazendo a coisa certa. Agora é responsabilidade dos comandantes territoriais e de batalhão seguir as ordens e reconhecer a natureza não científica e abusiva dessa prática", diz Hasorno à BBC News Mundo.

Não está claro se o anúncio afeta apenas o Exército ou também outros ramos das Forças Armadas do país asiático. As dúvidas devem ser esclarecidas nas próximas semanas.

"Os comandantes da Marinha e da Força Aérea agora precisam ser pressionados para seguir o exemplo do Exército e acabar com essa prática", afirma o pesquisador.

O partido Partai Demokrat, uma das principais legendas da oposição, afirmou que a abolição do exame levará a "melhorias no sistema de recrutamento", segundo o site de notícias Detik. O partido disse ainda que os exames aos quais os candidatos são submetidos devem ser relevantes para seus papéis e deveres.


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