Os talibãs reivindicaram nesta quarta-feira (4) o atentado suicida executado contra o ministro afegão da Defesa em Cabul, na véspera, no qual morreram oito pessoas, enquanto avançam em sua ofensiva pelo controle de grandes cidades no Afeganistão.
"Durante a noite (terça-feira), foi executado um atentado suicida contra a residência do ministro da Defesa (...) por um grupo de mujahedines equipados com armas leves e pesadas", afirmou o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, em um comunicado.
Este ataque "é o início das represálias contra (...) os funcionários do governo de Cabul que ordenam ataques e bombardeios em todo país contra civis", completou.
Este é o primeiro ataque de grande magnitude em Cabul, em vários meses, reivindicado pelos talibãs. Além de prever a retirada de todos os soldados estrangeiros do Afeganistão, o acordo assinado em fevereiro de 2020 em Doha com o governo dos Estados Unidos deveria impedir, em tese, ataques dos insurgentes nas principais cidades do país.
Duas grandes explosões
Duas grandes explosões foram registradas em Cabul na terça-feira à noite, com duas horas de intervalo. Oito civis morreram, e 20 ficaram feridos, segundo um balanço atualizado nesta quarta-feira pelo Ministério do Interior.
Um carro-bomba explodiu diante da casa de um deputado, vizinho do ministro da Defesa, general Bismillah Mohammadi, que está são e salvo. Vários criminosos conseguiram entrar na residência do deputado.
As forças de segurança demoraram cinco horas para acabar com a resistência dos invasores, que foram mortos.
E, nesta quarta-feira, também em Cabul, três pessoas ficaram feridas na explosão de uma mina terrestre.
Os talibãs, um grupo islâmico ultraconservador, assumiram o controle da várias zonas rurais desde que as forças estrangeiras anunciaram a retirada do Afeganistão, no início de maio. Têm encontrado mais resistência nas capitais provinciais, as quais o governo prometeu defender a qualquer custo.
"Não há como sair"
A ofensiva dos talibãs em Cabul ocorre depois que as forças afegãs contra-atacaram os insurgentes na cidade de Lashkar Gah, no sul do país.
Dezenas de civis morreram na batalha por Lashkar Gah, uma cidade de 200 mil habitantes que se tornaria o maior prêmio urbano dos talibãs desde a ofensiva em nível nacional lançada em maio.
Nesta quarta, seus habitantes tentavam fugir, seguindo as recomendações do Exército.
"As famílias com meios financeiros, ou carro, saíram de casa. Mas famílias que não podem pagar, como nós, têm que ficar. Não sabemos para onde ir, nem como", desabafa Halim Karimi, morador da cidade.
"Não há como sair da área, os combates não param. Ninguém garante que não vão nos matar no caminho. O governo e os talibãs destroem a gente", afirmou Saleh Mohammad, outro morador.
Agora, os talibãs se concentram nos centros urbanos, com combates sangrentos desde a semana passada nas cidades de Herat, perto da fronteira oeste com o Irã, e Kandahar, no sul, além de Lashkar Gah.
Golpe psicológico
A perda de Lashkar Gah, capital da província de Helmand, no sul, seria um severo golpe estratégico e psicológico para o governo.
Os talibãs assumiram o controle de algumas estações de rádio e televisão na cidade e invadiram casas de moradores. O Exército, então, preparou uma contra-ofensiva.
"Por favor, saiam o mais rápido possível para que possamos começar nossa operação", alertou o comandante do Exército afegão, general Sami Sadat, em uma mensagem à população na terça-feira.
Ontem, a ONU informou que pelo menos 40 civis foram mortos em Lashkar Gah nas últimas 24 horas.
Muitos afegãos vivem com medo de um retorno ao poder dos talibãs. O grupo governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, impondo um regime islâmico de extremo rigor, até ser derrubado por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001 aos EUA, os talibãs haviam-se recusado a entregar seu hóspede no Afeganistão e mentor dos atentados, o então líder da rede Al-Qaeda, Osama Bin Laden.
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