ESTADOS UNIDOS

Máscara nos EUA: 'Além de necessário, é um passo lógico', diz descobridor do HIV

Centro de Controle e Prevenção de Doenças recomenda uso de máscaras em ambientes fechados. Medida vale, inclusive, para cidadãos que completaram ciclo de imunização e coincide com aumento de infecções pela variante Delta do coronavírus

Durante 75 dias, os Estados Unidos experimentaram o retorno a uma vida quase normal. “Se você está totalmente vacinado, não precisa mais usar máscara!”, declarou, em tom triunfal, o presidente Joe Biden, em 13 de maio passado. Ante um aumento de 144% no número de casos da covid-19 nas duas últimas semanas — ontem, foram 56,635 novas infecções — e a circulação da variante Delta do coronavírus, o país se viu obrigado a recuar. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), principal agência sanitária norte-americana, tornou a recomendar o uso de proteção facial contra o Sars-CoV-2 em situações específicas.

“Em áreas onde a transmissão (do coronavírus) é alta e substancial, o CDC recomenda que pessoas completamente imunizadas utilizem máscaras em ambientes públicos fechados, a fim de ajudar a prevenir a disseminação do vírus e proteger as outras pessoas. Isso inclui as escolas”, declarou Rochelle Walesnky, diretora do organismo. “O CDC aconselha que todos em escolas K-12 usem máscaras”, acrescentou, ao citar os estabelecimentos dos ensinos primário e secundário.

Até o fechamento desta edição, os Estados Unidos registravam 34,5 milhões de casos da covid-19 e 611.171 mortos. Depois do anúncio do CDC, a Casa Branca divulgou um comunicado de Biden sobre a decisão. “Quando me candidatei à Presidência dos Estados Unidos, prometi ser franco com vocês sobre a covid-19 — boas ou más notícias. A estratégia funcionou: em seis no cargo, aplicamos mais de 300 milhões de vacinas — 60% dos adultos foram totalmente vacinados e quase 70% começaram as vacinações. Os casos diminuíram, e as mortes reduziram drasticamente. Uma estimativa sugere que nosso rápido envio da vacina salvou 100 mil vidas americanas, talvez mais”, afirmou.

Vacinação

De acordo com Biden, o anúncio do CDC, focado nas preocupações com a variante Delta, “é outro passo em nossa jornada para derrotar este vírus”. O presidente disse esperar que americanos que moram em áreas cobertas pela orientação do CDC obedeçam a recomendação. “Eu o farei quando viajar a essas regiões”, comentou. “Está claro que a mais importante proteção que temos contra a variante Delta é a vacinação. (…) Ao seguirmos a ciência e ao fazermos a nossa parte, sendo vacinados, a América poderá derrotar a covid-19.”

O presidente sublinhou que a imunização e o uso de máscaras em áreas impactadas pela variante Delta pode evitar lockdowns, quarentenas, fechamentos de escolas e interrupções enfrentadas pelos norte-americanos em 2020. A nova cepa é responsável por 90% das novas infecções. Um vídeo divulgado pela correspondente da agência France-Presse na Casa Branca mostra um funcionário colocando cartazes sobre a exigência de máscara na sala de imprensa. Biden estuda exigir a utilização de máscaras para funcionários públicos federais. A decisão do CDC não repercutiu bem entre os opositores republicanos. “As vacinas funcionam, e os americanos imunizados não deveriam usar máscaras. Ao forçar os americanos a retornarem às máscaras, o governo Biden não apenas lança dúvidas sobre uma vacina eficiente e segura, mas também contradiz o motivo pelo qual os imunizantes existem”, disse Kevin McCarthy, líder da minoria na Câmara dos Deputados.

O CDC divulgou um mapa sobre a presença do Sars-CoV-2 em território norte-americano. Em 24 dos 50 estados dos EUA, o índice de transmissão é considerado alto, incluindo Arizona, Utah, Flórida e Texas. Um artigo publicado na revista Virological mostra que a carga viram de pacientes infectados com a variante Delta chegou a ser mil vezes maior que a dos contagiados durante a primeira onda da pandemia, no ano passado.

O infectologista Robert C. Gallo, um dos descobridores do HIV (o vírus da Aids) e cofundador do Instituto de Virologia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (Estados Unidos), classificou a medida como necessária e lógica (leia Três perguntas para).

» Três perguntas para...

Robert Gallo, um dos descobridores do HIV (o vírus da Aids) e criador do teste para detectar o HIV. Cofundador e diretor do Instituto de Virologia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de
Maryland (Estados Unidos)

Como o senhor vê a recomendação do CDC de retomar o uso de máscaras em ambientes fechados de algumas regiões dos Estados Unidos?

Como você bem sabe, variantes mais infecciosas surgiram. Algumas pessoas também não querem ser vacinadas. Não queremos ver mais disseminação do Sars-CoV-2. Por isso, além de uma medida necessária, trata-se de um passo lógico.

Que conselhos o senhor daria aos governos no combate à covid-19?

Ouçam amplamente os cientistas e especialistas. Sejam cautelosos. Ainda estamos aprendendo sobre este vírus. Façam esforços mais colaborativos para derrotar a pandemia.

O que explica o fato de a covid-19 ganhar força em áreas dos EUA, além de países europeus?

Como não existe um número suficiente de pessoas vacinadas e há mais variantes infecciosas surgindo, simplesmente precisamos estar alertas.