O grito tem ecoado por várias cidades da Espanha, desde anteontem: “Mataram Samuel por ser maricas”. A revolta ante o “crime homofóbico” somou-se ao clamor pela justiça. Três suspeitos — dois homens e uma mulher entre 20 e 25 anos — de assassinarem o auxiliar de enfermagem de origem brasileira Samuel Luiz Muñiz, 24 anos, foram presos pela polícia de La Coruña (noroeste). O espancamento de Samuel, levado do Brasil para a Espanha quando tinha 1 ano, foi registrado por várias câmeras de segurança, no lado de fora da boate Playa Club, na madrugada do último sábado. “A investigação continua aberta até o total esclarecimento dos fatos. Não se descartam mais prisões nas próximas horas”, escreveu a polícia espanhola na sua conta do Twitter. As autoridades suspeitam de que pelo menos sete pessoas participaram diretamente do assassinato. Na noite de segunda-feira, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse esperar que a investigação da polícia encontre os autores e esclareça os fatos. “Foi um ato selvagem e cruel. Não vamos dar um passo atrás em direitos e em liberdades. A Espanha não vai tolerar isso”, avisou, por meio do Twitter.
Samuel provavelmente não imaginou que a frase pronunciada pelo agressor, naquele sábado, seria uma sentença de morte. “Pare de gravar ou eu te mato, maricas”, afirmou um homem. Por volta das 2h (21h de sexta-feira em Brasília), ele e uma amiga identificada como Lina usavam o celular para fazer uma videochamada com a namorada da garota quando Samuel foi interpelado pelo agressor. “Maricas de quê?”, respondeu Samuel, antes de levar um primeiro soco. Depois de ser ajudado por outro rapaz, o enfermeiro foi surpreendido pelo mesmo agressor, dessa vez acompanhado de 12 pessoas. “Bicha de m...!”, um deles gritava. Samuel não resistiu à sessão de tortura e morreu no hospital.
Maxsoud Luiz, pai de Samuel, escreveu uma mensagem sobre o filho, em um cartaz, e a colocou em um memorial em frente à Playa Club. “Eles nos tiraram a única luz que iluminava a nossa vida. Sabemos que temos um caminho muito longo a percorrer. Estaremos apoiados em nossos familiares, amigos e companheiros que nos ajudarão a sairmos deste caminho obscuro. (…) Não à violência”, desabafou.
A auxiliar de enfermagem María Rodríguez Barríos, 51 anos, e Samuel foram colegas por três anos na Real Institución Benéfico Social Padre Rubinos, um lar de idosos situado em La Coruña. “Ele era um menino exemplar. Todos nós gostávamos de Samuel. Como mãe, espero que haja justiça. Eles mataram Samu. E isso nos deixa um vazio muito grande”, desabafou ao Correio. “Eu espero que a Justiça seja justa. Samuel não voltará. E vamos sentir falta dele. Todos nós.”
Rubén Pillo, 22, também conhecido pelo nome artístico de Kil Babi, conhecia Samuel havia alguns anos. “Ele integrava um grupo de amigos. Era uma pessoa muito boa, sempre buscava evitar conflitos. Não fazia mal a ninguém, e apenas queria simplesmente ser feliz”, disse à reportagem. Ele disse não ter dúvidas de que o brasileiro foi assassinado por sua orientação sexual. “Infelizmente, não é brincadeira, a homofobia mata”, comentou.
O amigo espera que todos os agressores de Samuel sejam colocados atrás das grades. “Eu creio na justiça, ainda que em casos assim ela não exista. Para tanto, Samuel teria que voltar, e isso é impossível. Quero que os assassinos peguem a maior pena possível e não saiam livres dentro de cinco anos. Que passem a vida na prisão”, acrescentou Kil Babi.