SAÚDE

Estudo de Israel sugere que vacina é menos eficaz em casos da variante Delta

Relatório indica que, no último mês, a taxa de prevenção de casos leves de covid-19 caiu de 91% para 64%. A efetividade se manteve alta para infecções graves. Segundo o governo, os números são preliminares, mas sinalizam o poder infeccioso da nova variante

Um estudo do Ministério da Saúde de Israel sugere que a vacina contra a covid-19 desenvolvida pela empresa Pfizer, usada no país, é menos eficaz na prevenção de formas leves da doença causadas pela variante Delta. Os israelenses saíram na frente na corrida pela imunização contra o novo coronavírus — são considerados referência de dados sobre efetividade da medida preventiva no mundo real. Portanto, para especialistas, podem estar começando a enfrentar problemas que devem desafiar também outras nações. Segundo as autoridades do país, as novas constatações são preliminares, mas já se avalia a aplicação de uma terceira dose do fármaco protetivo.

A campanha de vacinação em Israel, iniciada em dezembro, foi uma das mais rápidas do mundo. Dados divulgados no fim do mês passado indicam que mais de 60% da população recebeu as duas doses do imunizante da Pfizer, e a vacinação acelerada reduziu a transmissão para cinco novos casos locais diários. Nos últimos dias, porém, o número subiu para quase 300 — um aumento atribuído à disseminação da variante Delta. Quase metade dos casos diários acontece em crianças, e a outra metade, em adultos — em sua maioria vacinados.

A pesquisa divulgada ontem indica que a vacina da empresa americana protegeu 64% dos imunizados contra casos leves da doença entre 6 de junho e o início de julho, uma taxa menor do que a detectada em maio, de 91%. A queda se deu justamente no período em que a cepa identificada, pela primeira vez, na Índia estava se espalhando em Israel, ressaltou o Ministério.

O levantamento também mostra que as taxas de proteção para casos graves da enfermidade se manteve alta: 93%, contra 97% em maio. “A Delta é muito mais infecciosa, mas parece não levar a tantas doenças graves e morte, especialmente porque, agora, temos a vacina”, declarou ao jornal britânico The Financial Times Nadav Davidovitc, membro do comitê consultivo de especialistas do governo em covid-19, em Israel. O especialista também enfatizou o fato de o estudo ser baseado em números preliminares.

Segundo Ran Balicer, presidente do Painel Nacional de Especialistas em covid-19 de Israel, é “muito cedo para avaliar com precisão a eficácia das vacinas contra a variante”. O especialista também disse à Agência France-Presse de notícias (AFP) que o surgimento da variante Delta como mutação dominante provoca uma “grande mudança na dinâmica da transmissão” do novo coronavírus.

Após a divulgação do relatório, o primeiro-ministro Naftali Bennett e o ministro da Saúde Nitzan Horowtiz anunciaram o início de dois estudos médicos que vão avaliar se é necessário o uso de uma terceira dose da vacina contra o Sars-CoV-2. A estratégia também será discutida com os desenvolvedores do fármaco, segundo o jornal The Times of Israel. Ainda de acordo com o periódico, as pesquisas serão supervisionadas pela chefe dos Serviços de Saúde Pública do Ministério da Saúde, Sharon Alroy-Preis, e vão “avaliar a eficácia da vacina e a taxa de desgaste ao longo do tempo”.

Em comunicado, a empresa Pfizer informou que os dados observados no estudo israelense são “preliminares e ainda não foram totalmente avaliados”. O grupo também destacou que alguns estudos laboratoriais e pesquisas do mundo real mostram que o imunizante funciona contra uma série de variantes, incluindo a Delta.

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Relaxamento

O aumento dos casos de infecção também coincide com o fim das restrições de distanciamento social. Bennett advertiu, no último domingo, que, “com a variante Delta fora de controle”, o país pode ser obrigado a retomar algumas medidas. Para o infectologista Leandro Machado, os dados do relatório refletem o cenário atual do país. “Temos, agora, essa nova variante que sabemos ser mais transmissível, além do fim das restrições sociais. Tudo isso contribuiu para essa queda registrada pelos pesquisadores, mesmo em uma análise bastante preliminar”, analisa.

O especialista brasileiro avalia que o novo estudo não deve gerar grande preocupação. “Essa queda de eficiência chama a atenção, mas se trata dos casos mais leves apenas, os graves seguem sendo evitados, que é o que mais nos interessa. Ao evitá-los impedimos a lotação dos hospitais e as complicações mais graves da doença. Por isso, acredito que não é algo tão grave”, justifica.

Machado também acredita que a aplicação de uma terceira dose pode ser uma boa saída para contornar o problema caso as taxas de efetividade se mantenham em queda. “É possível que isso aconteça primeiro em Israel, que já tem uma grande quantidade de pessoas vacinadas, e é algo que esperamos também no Brasil. As autoridades até já planejam, só que, para nós, ainda está cedo, pois estamos indo devagar na aplicação”, afirma. “Essa é uma alternativa simples e que pode contribuir para controlar a situação até que as vacinas sejam atualizadas para as novas cepas, como a Delta.”

Também os britânicos

No início deste ano, as autoridades de saúde britânicas também documentaram uma queda na eficácia da vacina da Pfizer em relação à variante Delta, porém menos grave. Em maio, a Public Health England, agência de saúde pública do Reino Unido, observou que a vacina fornecia proteção de 88% contra a infecção sintomática causada pela Delta e de 93 % contra a variante Alpha, que foi identificada, pela primeira vez, no país.