Martine Moise, a viúva do presidente haitiano Jovenel Moise, que foi assassinado em sua residência por um comando armado no início de julho, descreveu abertamente o ataque e expressou suas suspeitas sobre o crime em uma entrevista ao New York Times publicada nesta sexta-feira (30).
"A única coisa que vi antes de matarem-lo foram suas botas", declarou Martine Moise, ferida no ataque, ao jornal norte-americano sobre os assassinos. Despertada naquela noite de 7 de julho por tiros, a primeira-dama explica que escondeu seus dois filhos em um banheiro antes de se deitar no chão, a conselho do marido. "Eu acho que é onde você estará segura", lhe disse Jovenel Moise.
Depois de ser ferida por uma bala, ela permaneceu deitada, revelou ao jornal. "Naquele momento, senti que estava sufocando com o sangue na boca e não conseguia respirar", descreveu.
Mais tarde, membros do comando vasculharam o quarto. Martine Moise os ouviu falar em espanhol um com o outro e com alguém ao telefone. “Eles estavam procurando por algo e encontraram”, revelou ao New York Times.
A primeira-dama sobreviveu ao ataque e teve que ser evacuada de avião para tratamento na Flórida, onde falou com o jornal. Ela voltou ao seu país há duas semanas para o funeral do marido.
Martine se pergunta o que aconteceu durante o ataque com a equipe de 30 a 50 agentes encarregados da segurança na residência do presidente. "Não entendo como ninguém foi atingido pelas balas."
Após os primeiros disparos, o presidente chamou os dois homens responsáveis por sua segurança. "E eles me disseram que estão vindo", disse Moise à esposa depois de desligar o telefone.
A polícia haitiana prendeu os dois chefes de segurança do presidente, bem como vários mercenários colombianos, e afirma ter descoberto um complô organizado por um grupo de haitianos com ligações no exterior, mas muitas incógnitas persistem na investigação.
Para Martine Moise, as pessoas detidas durante a investigação são apenas os executores do crime de 7 de julho, que aprofundou a crise política no empobrecido país.
“Só os oligarcas e o sistema poderiam matá-lo”, acusa a primeira-dama.
Martine Moise deu um nome ao New York Times: o de um empresário influente que acabara de entrar na política, Réginald Boulos.
Evitando acusá-lo de ordenar o assassinato, Martine acredita que o empresário tinha algo a ganhar com o a morte do presidente, disse o jornal.
Contatado pelo New York Times, Boulos negou veementemente as alegações veladas da viúva do presidente e expressou seu apoio a uma investigação internacional independente.
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