SAÚDE

Segunda dose não aumenta risco de trombose, dizem criadores da vacina Astrazeneca

Constatação é feita por criadores da vacina AstraZeneca ao analisar dados de aplicação do imunizante em países de todos os continentes

Vilhena Soares
postado em 29/07/2021 06:00
Vacinação no México: fórmula criada em parceria com a Universidade de Oxford é aplicada em ao menos 170 países -  (crédito: Alfredo Estrella/AFP)
Vacinação no México: fórmula criada em parceria com a Universidade de Oxford é aplicada em ao menos 170 países - (crédito: Alfredo Estrella/AFP)

A aplicação da segunda dose da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela empresa AstraZeneca não representa aumento na incidência da trombocitopenia, um efeito colateral do imunizante considerado raro já na primeira inoculação. A constatação foi feita por especialistas da multinacional sueca que criou o imunizante em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido, ao revisarem dados sobre a aplicação do fármaco protetivo em diferentes países. Os resultados foram publicados na última edição da revista especializada The Lancet.

Os cientistas utilizaram informações obtidas em um banco de dados de segurança global da AstraZeneca, que contabiliza todos os eventos adversos relatados durante o uso dos medicamentos e vacinas comercializados pela empresa. “Os casos relatados de trombose com síndrome de trombocitopenia (TTS) em todo o globo foram incluídos até a data limite de 30 de abril, ocorrendo dentro de 14 dias após a administração da primeira ou da segunda dose da vacina”, relata a empresa em comunicado.

As análises mostram que a taxa de TTS após a aplicação da primeira dose é de 8,1 casos por 1 milhão. Depois da segunda inoculação, o valor cai para 2,3 casos a cada 1 milhão de vacinados. “Essa taxa é comparável às de fundo, observadas em populações não vacinadas (grupo controle). Esse é um dado muito animador”, enfatiza o comunicado. Segundo os autores, os resultados estão de acordo com relatórios recentes da Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA, em inglês), o sistema britânico responsável pelo monitoramento de equipamentos médicos e remédios.

Para os criadores do imunizante, batizado recentemente de Vaxzevria, os dados reforçam a segurança do fármaco protetivo. “Vaxzevria é eficaz contra todas as gravidades da covid-19 e desempenha um papel crítico no combate à pandemia. A menos que o TTS tenha sido identificado após a primeira dose, esses resultados apoiam a administração do esquema de duas doses do imunizante, conforme indicado, para ajudar a fornecer a proteção contra essa enfermidade, incluindo as variações de preocupação que surgiram recentemente”, afirma Mene Pangalos, vice-presidente executivo de Pesquisa e Desenvolvimento de Biofarmacêuticos da AstraZeneca, também em comunicado.

Incentivo

Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), avalia que os resultados divulgados ontem são muito positivos e servem como incentivo para que toda a população, principalmente os brasileiros, se vacinem. “É um dos imunizantes mais usados aqui no Brasil, e temos visto muita gente que tomou a primeira dose dessa vacina com medo de tomar a segunda ou indivíduos que pedem pra escolher a marca com medo de eventos adversos. Isso não é necessário.”

A vacina recebeu autorização para uso em países dos seis continentes. Mais de 800 milhões de doses foram fornecidas a ao menos 170 países, sendo 100 deles por meio Instalação Covax. No Brasil, o fármaco é produzido em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Segundo a especialista brasileira, os novos dados reforçam a constatação de que esses efeitos adversos da vacina da AstraZeneca são muito raros. “Assim como as outras reações registradas no uso da primeira dose, como dor de cabeça e febre, o risco de eles ocorrerem após a segunda dose é bem menor”, afirma. Lorena Diniz lembra, ainda, que a trombose gerada pelo uso de imunizantes, além de rara, pode ocorrer devido a outros fatores, como a genética. “Geralmente, esses eventos acometem pessoas que já tem predisposição a ter esse tipo de problema. Mas, ainda assim, os riscos de acontecer são muito pequenos. Os de complicações são muito maiores ao deixar de se vacinar e se infectar pelo vírus.”

A médica acredita que surgirão novos estudos constatando o mesmo fenômeno. “Agora, temos falado mais das vacinas, mas todos os remédios passam por essa vigilância constante de segurança. E isso é ótimo, porque podemos descartar riscos ou comprová-los e administrá-los da melhor forma. É dessa forma que as bulas são construídas por órgãos tão importantes, como a Anvisa”, explica. “Com certeza, teremos mais pesquisas e dados importantes sobre o uso desse e de outros fármacos contra covid-19.” Os autores do estudo divulgado na The Lancet adiantaram que conduzirão novas investigações, com foco em um acompanhamento contínuo da aplicação do imunizante em todo o mundo.

» Possível reação imune

Esse problema sanguíneo ocorre quando o número de plaquetas no sangue é reduzido por algum desequilíbrio no corpo, o que pode aumentar o risco de hemorragias. É considerado um evento raro e pode ser controlado com o uso de medicamentos. No caso da aplicação de vacinas, especialistas acreditam que essa complicação surge devido a alterações na resposta do sistema imune que ainda não são bem compreendidas.

» Covax espera 250 milhões de doses

O sistema Covax, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para distribuir mais vacinas contra a covid-19 para países mais pobres, espera receber 250 milhões de doses de imunizantes nas próximas seis a oito semanas. A informação foi divulgada ontem, no relatório semanal emitido pela agência das Nações Unidas. A Covax depende cada vez mais de doações de vacinas de países que compraram mais doses do que o necessário, principalmente após autoridades indianas terem proibido que o Instituto Serum, um grande produtor de vacinas da AstraZeneca, exportasse o fármaco protetivo até que a pandemia seja controlada no país. “A demanda global por imunizantes excede em muito a oferta, deixando milhões dos mais vulneráveis desprotegidos (…) Precisamos de auxílio, a vacinação em todo mundo é nosso melhor escudo contra novas variantes”, defende, em comunicado, Seth Berkley, chefe da Aliança para Vacinas (Gavi), instituição que trabalha em parceria com a OMS no Covax.

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